Como estou de castigo e meio dopada neste verão, sobram alguns horários em que consigo ler meus livros de férias. Assim, sigo num ritmo meio lento. Mas nesse janeirão já mastiguei três livros interessantes, que comentarei brevemente aqui.
1) Naquele dia, de Dennis Lehane (Companhia das Letras, 2010). Show! Como sempre, Lehane dá um banho de escrita, como escreve bem, o danado. Sou fã, em especial de Gone, baby, Gone e Paciente 67 (que deu origem ao roteiro de A ilha do medo, dirigido pelo Scorcese). Nesse calhamaço de quase 600 páginas, Lehane cruza a história de fascinantes personagens nos EUA na década de 1910. Aprende-se muito, mas muito, sobre a formação norte-americana neste romance. Em especial, sobre um acontecimento que eu até então desconhecia, que foi a greve da polícia de Boston em 1919 e suas consequências. Sinceramente, um romance à moda antiga, fascinante mesmo. Como estou acordando de madrugada (efeito medicamentoso chato), em vez de me preocupar com coisas chatas e ansiosas de minha própria vida, preferi me ocupar com a vida dos personagens do Lehane por várias madrugas. Valeu a pena! Adoro personagens interessantes. Mestre na escrita! (agradeço mt ao meu aluno querido Josué que me lembrou, na véspera do natal, do livro novo do Lehane, e à minha irmã amada Deb que foi no Plaza comprar o livro de presente pra mim!).
2) Todos os homens são mentirosos, de Alberto Manguel (Companhia das Letras, 2010). Também adoro o Manguel. Seu livro sobre a história da leitura é fascinante e amoroso. Mas fiquei meio assim assim com esse romance/documento jornalístico a la Rashomon. A cada capítulo, um ponto de vista acerca do personagem Alejandro Bevilacqua vai se formando, como um mosaico, em que mentira e verdade, ficção e realidade, jornalismo e romance, vão sendo colocados em jogo e em xeque. Como sempre, bem escrito. Historicamente, um excelente panorama sobre Buenos Aires em meados do século XX e a vida dos artistas exilados na Europa por ação das ditaduras militares. Mas achei desequilibrado o tom da narrativa. Os dois últimos depoimentos, principalmente, são estilísticos e chatos. Poderia ser genial, ficou meia bomba. Mas, valeu!
3) João do Rio. Vida, paixão e obra, de João Carlos Rodrigues (Civilização Brasileira, 2010). Olha, amo João do Rio. A alma encantadora das ruas e A vida vertiginosa são clássicos para entender o Rio de Janeiro e o Brasil, na minha opinião. Sua biografia demonstra, mais uma vez, sua personalidade complexa e fascinante. O texto é bom, o biografado figura interessantíssima. Mas tudo isso, vira e mexe, é meio que estragado pela necessidade de aparecer do autor da biografia, que coisa mais triste. Poderia comentar vários trechos, mas vou citar só um, na pag. 242, que aparece do nada:
"Esperando não ofender nenhum idiota da objetividade, como autor desta biografia me permito agora divagar um pouco, baseado em possibilidades reais." [na sequência, o autor imagina um encontro entre João do Rio e Proust em Paris, para depois concluir:] "Teriam os dois escritores, o mulato carioca e meio-judeu aristocrático, cruzado olhares curiosos e fugidios durante uma mera fração de segundo? E teriam identificado um no outro a marca indelével dos filhos de Sodoma, reconhecível de imediato por qualquer semelhante?".
Preciso dizer mais alguma coisa? ai, ai... a bem da verdade, era pra colocar os coments sb esse livro sob a rubrica "Muita vergonha alheia", mas me deu até preguiça.
1) Naquele dia, de Dennis Lehane (Companhia das Letras, 2010). Show! Como sempre, Lehane dá um banho de escrita, como escreve bem, o danado. Sou fã, em especial de Gone, baby, Gone e Paciente 67 (que deu origem ao roteiro de A ilha do medo, dirigido pelo Scorcese). Nesse calhamaço de quase 600 páginas, Lehane cruza a história de fascinantes personagens nos EUA na década de 1910. Aprende-se muito, mas muito, sobre a formação norte-americana neste romance. Em especial, sobre um acontecimento que eu até então desconhecia, que foi a greve da polícia de Boston em 1919 e suas consequências. Sinceramente, um romance à moda antiga, fascinante mesmo. Como estou acordando de madrugada (efeito medicamentoso chato), em vez de me preocupar com coisas chatas e ansiosas de minha própria vida, preferi me ocupar com a vida dos personagens do Lehane por várias madrugas. Valeu a pena! Adoro personagens interessantes. Mestre na escrita! (agradeço mt ao meu aluno querido Josué que me lembrou, na véspera do natal, do livro novo do Lehane, e à minha irmã amada Deb que foi no Plaza comprar o livro de presente pra mim!).
2) Todos os homens são mentirosos, de Alberto Manguel (Companhia das Letras, 2010). Também adoro o Manguel. Seu livro sobre a história da leitura é fascinante e amoroso. Mas fiquei meio assim assim com esse romance/documento jornalístico a la Rashomon. A cada capítulo, um ponto de vista acerca do personagem Alejandro Bevilacqua vai se formando, como um mosaico, em que mentira e verdade, ficção e realidade, jornalismo e romance, vão sendo colocados em jogo e em xeque. Como sempre, bem escrito. Historicamente, um excelente panorama sobre Buenos Aires em meados do século XX e a vida dos artistas exilados na Europa por ação das ditaduras militares. Mas achei desequilibrado o tom da narrativa. Os dois últimos depoimentos, principalmente, são estilísticos e chatos. Poderia ser genial, ficou meia bomba. Mas, valeu!
3) João do Rio. Vida, paixão e obra, de João Carlos Rodrigues (Civilização Brasileira, 2010). Olha, amo João do Rio. A alma encantadora das ruas e A vida vertiginosa são clássicos para entender o Rio de Janeiro e o Brasil, na minha opinião. Sua biografia demonstra, mais uma vez, sua personalidade complexa e fascinante. O texto é bom, o biografado figura interessantíssima. Mas tudo isso, vira e mexe, é meio que estragado pela necessidade de aparecer do autor da biografia, que coisa mais triste. Poderia comentar vários trechos, mas vou citar só um, na pag. 242, que aparece do nada:
"Esperando não ofender nenhum idiota da objetividade, como autor desta biografia me permito agora divagar um pouco, baseado em possibilidades reais." [na sequência, o autor imagina um encontro entre João do Rio e Proust em Paris, para depois concluir:] "Teriam os dois escritores, o mulato carioca e meio-judeu aristocrático, cruzado olhares curiosos e fugidios durante uma mera fração de segundo? E teriam identificado um no outro a marca indelével dos filhos de Sodoma, reconhecível de imediato por qualquer semelhante?".
Preciso dizer mais alguma coisa? ai, ai... a bem da verdade, era pra colocar os coments sb esse livro sob a rubrica "Muita vergonha alheia", mas me deu até preguiça.