Mais um instigante artigo no Prosa e Verso de ontem sobre a polêmica dos concursos para professores, que já vem sendo discutida no caderno de O Globo há três sábados. Nele, o autor, Claudio Gurgel, questiona, como muitos de nós, os critérios produtivistas que vêm sendo usados para mesurar a qualidade do trabalho do docente universitário. Reproduzo abaixo parágrafo com o qual concordo inteiramente:
"A universidade tem três finalidades: o ensino, a pesquisa e a extensão, devendo estas atividades ser associadas – o que significa que são ângulos de uma pirâmide, que a apoiam e se apoiam. Entretanto, o mais importante e determinante órgão público com “a tarefa de coordenar a avaliação da pós-graduação”, como se lê no seu site, a CAPES, pouca importância dá às aulas ministradas, às orientações dadas, às bancas feitas, aos projetos de extensão, às atividades dos grupos de pesquisa, aos debates, às entrevistas concedidas e até mesmo aos trabalhos apresentados em congresso pelos professores do ensino superior. Nada disto tem peso expressivo na pontuação de um professor, segundo a CAPES".
Por tudo que faço, pela professora que sou, pelo quanto me dedico ao ensino e à extensão, me sinto profundamente injustiçada com esses critérios. Não sou e nunca serei uma máquina de produzir textos, embora como jornalista de formação isso seria muito fácil para mim, na boa, mas muito fácil mesmo... Mas considero que escrever e publicar é somente uma parte de meu trabalho, que tem outros ângulos, alguns dos quais me tomam um tempo imenso (preparação das aulas, por exemplo) e, embora sejam fator fundamental para que minhas aulas sejam sempre cheias e eu seja reconhecida como uma professora de qualidade, nada contam para a CAPES. Assim como outros colegas, por tudo o que faço e pelo reconhecimento que meu trabalho tem nesses vinte anos de magistério, me sinto prova viva e testemunho de como esses critérios produtivistas são reducionistas e não conseguem dar conta do que se pretende em termos de análise. E seguirei praticando a docência na qual acredito, eu e muitos de nós, que não se curvaram à aplicação da lógica perversa do capital e seus índices produtivistas a esse fazer cotidiano, subjetivo, intenso e complexo que é dar aula.
Para quem quiser ler o artigo todo, o link é esse (o texto está abaixo, pq não estou conseguindo linkar só para o artigo, intitulado "Concursos na universidade: voltando ao ponto". Antes desse, tem um outro, com o nome "Silêncio ensurdecedor", do Angelo Segrillo, que também toca no ponto dos concursos, tendo sido, inclusive, autor do primeiro artigo que iniciou a polêmica)