Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Essa é uma das minhas preferidas, por muito tempo ficou como papel de parede do meu laptop. Altos papos!

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Acabei de ler Filho eterno, de Cristóvão Tezza. Sem dúvida, um bom e interessante livro. Bem escrito, original, obviamente comovente. Acho que merecia os prêmios que levou. Gostei, no geral.

Mas fiquei meio incomodada com o ego masculino do narrador. Mais do que uma narrativa sobre o filho, me pareceu uma narrativa sobre um umbigo masculino, um egocêntrico em torno de quem giram todos, inclusive o filho, a família, o mundo. Sei lá, achei pouco generoso com a alteridade.

Não estou falando que é reflexo do autor, de sua visão de mundo, de sua vida. Não o conheço e já tô meio escaldada pra não ter pretensão de cobrar coerência entre ficção e representação da realidade, mesmo sendo o livro em tese inspirado na história e na trajetória do autor.

Mas estranhei e fiquei meio pasmada com a ausência da mulher/mãe na trama, nada, nem um registro, só um fiapo, um nada que percorre poucas linhas (parece Geertz na descrição densa da "Briga de galos", em que a mulher antropóloga aparece no primeiro parágrafo e depois vira "fumaça, fumaça, fumaça..." - momento homenagem). Da mesma forma, a filha, que só recebe como referência o rótulo de ser normal, é um nada. E mesmo o filho, razão e tema do livro premiado, é um atalho por vezes embaçado para a grande descrição de si, deste narrador autocentrado, seus desejos, seus sonhos frustrados, seu grande livro sobre ele mesmo, o grande homem, o perdido, o frustrado, o que precisou aprender a viver com a dor da imperfeição.

Sei lá, achei que se trata de um livro sobre uma forma cultural masculina de pensar o mundo. Egóica e, ainda que emocionante e bem escrita, irritante, por lembrar esse grande umbigo homásculo. Não à toa está lá o futebol como grande metáfora da comunhão masculina. No fim das contas, num senti empatia pelo narrador, coisa rara comigo num livro, inda mais com tema pungente. Me lembrou, de certa forma, mau-humor que tive com o maestro filho da puta de Valsa negra, de Patrícia Mello. Confesso que este último foi capaz de me despertar mais compaixão do que o pai umbiguento do filho eternamente secundário na trama de Tezza. Gostei, mas num lia de novo, não.