Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Tô aqui ouvindo e vendo o show do RC no Maracanã, e toco a me emocionar quando ele canta músicas antigas, tipo "Eu te amo". Isso me lembra muito minha infância, meu radinho vermelho que só pegava AM, "show dos bairros" na rádio Mundial, Rádio Popular Fluminense de Conceição de Macabu, os discos que minha madrinha Leninha sempre nos dava do Rei no natal, ah, eu escutava e gostava muito. E ainda tinha a espera quase mágica pelo show do Rei, especial de Natal, era um evento comparável à missa do Galo. Já falei isso numa banca, inclusive: o show anual do Rei, na cidade do interior dos anos 70 e início dos anos 80, era uma cerimônia televisiva e presencial, um ritual mítico, muito diferente, em termos de fruição, da experiência do público urbano. A gente ia assistir aos shows do Rei na casa de Tia Vilma, que tinha tevê em cores e quando a imagem estava boa o povo exclamava que "estava que nem um tapete", hahahaa, que saudades!

Isso me fez lembrar uma coisa q já queria postar aqui, sobre música brega. Tem a questão do gosto etc. Tem tb uma certa vontade de implicar, que faz com q a gente escute, cante e toque na viola só pra irritar os pretensos puristas e eruditos. Mas, no meu caso, tem a ver com memória e afeto tb, e muito.

Lembro que quando li o magistral "Eu não sou cachorro, não", livro do Paulo Cesar Araújo (que depois iria escrever uma belíssima biografia sobre o Rei, aquela da polêmica e da proibição babaca que quase me fez desgostar de RC) sobre música brega, entendi perfeitamente quando ele, logo no prólogo do livro, contou como a música brega estava ligada à sua infância em Vitória da Conquista, na Bahia, tendo sido trilha sonora de muita coisa da história dele. Me identifiquei totalmente.

Kátia Cega, Jane e Herondy, Perla (a paraguaia, não a roqueira), Lilian, Luis Ayrão, Benito de Paula, Gilliard, Sidney Magal, Marquinhos Moura, Roupa Nova, os Fevers, Sullivan e Massadas, Ruy Maurity, Vanusa... ah, são tantas emoções, como diz o Rei, devo até estar esquecendo de muitos (só ao escrever aqui lembrei de Rosana, Adriana, Joanna, Yahoo, Gretchen... ih, se deixar a lista é infinita).

Eu ouvia esse povo diariamente no rádio, tocava (com coro familiar e de amigos) no violão e via nos programas de tevê, especialmente Globo de Ouro, no Chacrinha e no Silvio Santos. Poucas memórias me são tão afetivas e divertidas do que as do "Qual é a música?", do SS (sobre o qual farei outro dia um post em separado, ele merece), no qual esse povo era atração principal: Patotinhas x Gilliard; Ronnie Von X Gretchen; Ronaldo Resedá x Vanusa, "pablo, qual é a música?", "maestro zezinho, quantas notas?"... realmente, dias memoráveis, domingos inesquecíveis em Conceição, em Maricá ou mesmo em minha casa em Niter.

Tenho muitas preferidas. Até hoje, "Desabafo", do Rei, e "Sonhos", do Peninha, são carro-chefe nas minhas perfomances violeiras, e sempre fazem muito sucesso com o povo todo. Mas coloco aqui, de prêmio, a mais inesquecível: Kátia Cega em "Qualquer jeito". A minha amiga Adriana Facina está fazendo pesquisa sobre música popular e entrevistou vários desses nomes citados acima. Estou doida pra ler os resultados. Essa turma faz parte da história minha e de muita gente, e quando "fecho os olhos pra fazer passar o tempo", cantando com emoção cada uma dessas melodias, sim, amo, com orgulho, a música brega, amo, amo e amo!

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Ela morreu de amor, no dia do seu aniversário, tirando sua própria vida aos 36 anos. Seus poemas são tão, mas tão bonitos que quase desfaleço quando, em fases mais melancólicas, me pego relendo seus sonetos e rimas poderosas. Florbela Espanca, essa voz mágica do Alentejo. Realmente, tenho predileção pelos portugueses, vide "poemas preferidos - parte 1".

Podia escolher qualquer um dos que ela escreveu, acho quase todos perfeitos. Mas vou escolher três, dentre os que me tocam mais profundamente (o primeiro em homenagem à minha querida Lu Ribeiro, parece ter sido feito para ela): "Versos de orgulho", "É um não querer mais do que bem querer" e "Amar".