Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:

Zico completa 60 anos. Me emociono. Vi ao vivo e via tv, em jogos do Flamengo e do Brasil, alguns dos lances mais lindos da história do futebol saírem dos pés desse cara. Vi num jogo do Mengo no Caio Martins, em Niterói (sim, existiu!), Zico fazer um gol com o drible da vaca, aquele que Pelé tentou dar na copa de 70 (detalhe: ele fez seis gols nessa partida, contra o extinto ADN); vi esse cara destruindo tudo na final do Mundial de Clubes em que o Mengo foi campeão; fui no jogo da volta do Zico pro Fla, contra o Santa Cruz, em que o Leonardo ficou tão emocionado jogando ao lado do ídolo que num parava de chorar, e Zico fez um gol tão lindo que de vez em quando lembro e fico boba; vi num jogo bobo contra o Americano Zico dar um passe de letra/meio de puxada, com a bola ainda caindo, do meio do campo até a entrada da área, que acabou não virando gol mas fez o Maraca inteiro aplaudir de pé; vi e chorei quando o carniceiro do Marcio Nunes, do Bangu, quebrou o joelho do craque; vi gols de falta, dribles mágicos, passes lindos... jogador, pra mim, mais maravilhoso que vi, fez do meu Flamengo dos anos 80 um time dos sonhos, minha paixão.

Mas depois começou a palhaçada: secretário do governo Collor; posições políticas reacionárias e estranhas; participante daquele projeto ridículo de emancipação da Barra... é, o ídolo dos pés mágicos também tinha pés de barro...

Num me recuperei mt desses baques. Nunca mais olhei Zico da mesma forma. O desencantamento é triste. Sinto falta daquele olhar mágico que meus 15 anos tinham quando via o Zico jogar. Mas prefiro Sócrates como ídolo, pra ser sincera. Achava mais lindo ser gênio em campo e sujeito ético na vida. Sinto falta da minha pureza de fã do futebol do Galinho naqueles anos 80. Hoje, com o olhar que tenho, num posso só comemorar, lamento também sua conduta como homem público. Podia ter feito tanto...