Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:

Terminei de ler, como um raio, a belíssima homenagem de Paula Dip a Caio Fernando de Abreu, através do livro "Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando de Abreu" (Rio de Janeiro, Record, 2009). Comprei meio sem querer, por sugestão de Dessa, quando estava escolhendo livros pra levar na minha viagem pra NY. Acabei lendo antes de ir, depois de cair naquele velho truque de "vou dar só uma folheadinha pra ver qual é"...

Num me arrependo, é muito bonito o livro! Ela, muito amiga dele a vida toda, faz um relato de histórias, afetos, coisas raras, "pequenas epifanias", como chama o próprio Caio a essas jóias raras e efêmeras que a vida nos traz. Bem escrito e tocante, como um bom livro, ao menos pra mim, deve ser. :) Queria destacar um trecho, tirado de uma das inúmeras belas cartas escritas por Caio, citada por Paula Dip na p. 228:

"Deve ser o tempo, a proximidade dos 40 anos (que meeeeedo), as nossas células e neurônios fatigados, mas vai baixando uma humildade tão grande. Reduzi tanto meus sonhos, minhas fantasias, minhas esperanças. Ando espantado com o Tempo. O tempo é a única coisa terrível que existe. O tempo que passa e leva de arrasto, aparentemente aleatório, a juventude nossa e a dos outros. Não é amargo, é apenas real. Só hoje começo a compreender certa expressão de espanto inconsolável que muitas vezes percebi nos olhos de meu pai. Meus próprios olhos estão ganhando pouco a pouco uma expressão semelhante".


Minha história com Caio também tem lá seus momentinhos. Não lembro quando li seus escritos pela primeira vez, mas lembro que foi "Morangos mofados", que fiquei impressionadíssima, especialmente com o conto "Sargento Garcia", e que li o livro algumas vezes. Depois ganhei o "Triângulo das águas" com uma dedicatória inesquecível e num momento inesquecível de Tânia Neves, pra mim a Cachs. E lembro de ter ficado muito impactada com esse livro tb. Já tinha lido "Os Dragões..." e crônicas esparsas do Caio, e já estava irremediavelmente apaixonada por ele. Lembro-me que senti de forma forte a notícia de sua morte (como muitos, acompanhei suas crônicas em que ele falava sobre a doença), o que só se repetiu duas vezes com pessoas públicas pra mim (Renato Russo e Marcelo Mastroiani). E recentemente ganhei de presente,veja só, exatamente pelos meus 40 anos!, o livro "Pequenas epifanias" do Caio, com belíssima dedicatória de meu amigo Dênis de Moraes, um declarado apaixonado pelo autor.

Ter lido esses fragmentos de memória e amor acerca do Caio, neste momento, me fez muito bem. Coisa boa é ser humano de verdade, idiossincrático, sem dúvida, mas criando, gerando, fazendo história, e não destruindo, vampirizando, vuduzando a vida alheia. Obrigada, Caio, mais uma dívida com você.