Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Diz o velho Aristóteles em Ética a Nicômaco: "A vida de atividade é conforme à virtude aprazível por si mesma, pois o prazer é um estado da alma, e para cada homem é agradável aquilo que ele ama; e não apenas o cavalo dá prazer ao amigo de cavalos e um espetáculo ao amador de espetáculos, como também os atos justos aos amantes da justiça e, em geral, os atos virtuosos aos amantes da virtude".

Isso tudo pra falar da busca pela felicidade, fim finalíssimo, sumo bem, que se busca a partir de escolhas morais e das formas de vida que se escolhe. Para ele, a mais nobre seria a vida contemplativa, em que se buscam as virtudes. Mas, no entanto, d
iz Ari, por vezes, tópicas, a felicidade se encontra na resolução de conquistas mais mundanas, almejadas na vida vulgar. Riqueza, quando se é pobre; o ser amado, quando se está apaixonado; saúde, quando se está doente; etc.

Quero seguir nas lutas justas, ah, mas como entendo meu querido Aristóteles. Venho passando por tantos problemas chatos de saúde, que estão requerendo imensa paciência e cuidados dos que me amam, me levando a travar pequenas mas intensas lutas diárias, para me estabilizar novamente.
..

Concordo com Ari que a felicidade, a grande, só mesmo na vida política e na vida contemplativa, em que as conquistas são para todos e, como estão apoiadas nas virtudes, nada, nenhum revés ou intempérie do destino, pode retirá-las de você.

Mas, em algumas momentos da vida, sem dúvida, como sábio Ari já nos diz
ia, a felicidade está nesse pequeno bem, o cavalo para os que amam os cavalos, a saúde para quem está doente... sem esquecer que existem outros bens mais justos e nobres, que sejam para todos e nao para si. Mas também sonhando com esse momento de libertação daquilo que oprime, desanima, impede, cansa, aquela pequena mas tão grande conquista, ficar bem, sentir-se bem, respirar em paz.

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
tinha esquecido desse vídeo, mas meu querido aluno Alexandre me lembrou. Uma das maiores vergonhas alheias do mundo. A cara de espanto e constrangimento dos índios; a roupa dela imitando uma veste índigena norte-americana; a hora em que ela solta a cabeleira loura; a dança final... que vergonha alheia!!!!

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Acabei de ler o livro Só garotos (São Paulo, Companhia das Letras, 2010), misto de memórias e biografia parcial da artista norte-americana Patti Smith, englobando principalmente a parte de sua vida em que ela conheceu e conviveu com o tb artista dos EUA Robert Mapplethorpe.

Que livro lindo! Valeu, a meu ver, por cada centímetro o National Book Award que recebeu em 2010. Num ligo mt pra essa coisa de prêmio etc., mas eis um caso de meritocracia. O livro merece, é um desfile de esperança, sonhos, delicadezas, fases lindas e inocentes da vida, amizade, amor, abertura de visão de mundo... enfim, um belo livro.

Não conhecia nenhum dos dois, nem Robert nem Patti, e já me sinto íntima. Bom quando um livro traz pra nossa vida aquelas pessoas, suas histórias, seus pequenos segredos, suas epifanias... peguei o livro na livraria sem saber quem eram os personagens, nem de prêmio nem de nada, meio que influenciada pelo curso que pretendo dar com Marildão na pós em 2011 sb memória. Que maravilhosa surpresa!

Me emocionei em vários trechos, levitei em outros, sorri condescentende em alguns, adorei todos. Por motivo particular (a casa de meu tio amado, em que me hospedo qdo vou pra NY, fica exatamente em frente ao hotel Chelsea, onde se passa boa parte da história narrada), ainda me senti mais ligada àquela história. Mas gostei mesmo foi da parte humana, que dupla!

Num quero contar nada pra num cortar a viagem do leitor, mas vou cometer uma pequena heresia e contar o porquê do título, que sintetiza o espírito do livro e da fase da vida dos dois personagens a que ele se refere. Em uma passagem do livro, nos conta Patti, eles passeavam, em fins dos 60, pela Union Square, em NY, entre hippies, artistas, ativistas políticos, vestidos exoticamente e totalmente integrados naquele lugar, sonhando em serem parte definitiva dele, começando suas carreiras, ainda tateando sobre seus talentos, passando perrengue e enfrentando tudo em nome da liberdade e do sonho... Nisso, uma mulher, provavelmente turista, os vê e diz para o marido: "olha, dois artistas, fotografa eles" (algo assim, estou narrando de memória, portanto, pode não ser literal). E o marido responde: "ora, são só garotos". Nada mais sintético do espírito do livro: uma ode ao tempo da juventude e da delicadeza, só garotos e seu sonhos. Que lindo, que sensível! esse é o tom do livro, amei!

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
vira e mexe me deparo com essa interpretação magistral da Gal Costa, perdida em meu mp3. Sempre me emociono e aumento o som. Lindão!
De quebra, vídeo divertido do Fantástico e mais os figurinos da época. !977. hehe.

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Pequeno manual de formação em Teoria e Prática da Hipocrisia:

1) fume maconha com seus amigos da universidade e depois diga, nos fóruns públicos e em situação de crise, que é contra o tráfico e contra quem financia o tráfico comprando drogas;

2) encha o saco como militante de esquerda, denunciando sem parar o preconceito e a discriminação, e no primeiro momento em que isso não te diz respeito, e sim diz respeito ao direito dos outros, assuma postura fascista e generalize o preconceito contra o outro, em especial o de classes economicamente oprimidas, sugerindo, inclusive, o extermínio como solução. E se orgulhe disse, não escutando nenhum de seus antigos aliados quando eles alertam você acerca da contradição e do preconceito de sua atitude, reagindo, inclusive, com agressividade.

3) puxe bastante, mas bastante mesmo, o saco de sua professora de sociologia e outras matérias afins, em diversos emails, DMs, conversas privadas, dizendo que ela é o máximo, que vc queria ser como ela, que a opinião dela é fundamental nas lutas q vc trava, que precisa do apoio dela quando quer denunciar alguma coisa porque o discurso dela tem legitimidade entre os demais etc.
E quando ela, num fórum público, externalizar opinião diferente da sua, permita que seus "amigos" enxovalhem, ridicularizem, ataquem, escrotizem a fala de sua professora sem em nenhum momento sair em defesa dela, sem em momento algum lembrar uma única das suas frases puxasaquentas de antes. Ao contrário, não só se omita, qdo um "amigo" pergunta/fala para vc "quem é esse ser? de onde saiu essa pessoa?", "nunca vi alguém tão radical, tão preconceituoso" etc. , além de se omitir, não dizer nem uma só vez "é minha professora querida, queria ser como ela quando crescer, me ajudou e me apoiou muitas vezes, está sempre lutando pelo justo etc.", não só não diga nada disso, como forme pequenas matilhinhas contra ela.

Parabéns, vc já está na fase master de ser um hipócrita! Na sua formatura, só estarão o creme de la creme em termos de humanidade, afeto, justiça, amizade, não é? NOT.

Vou ter que chamar aqui, novamente, antiga foto que já usei no blog, em outro post dessa triste série. Mas nenhuma imagem seria mais perfeita para traduzir o que penso sobre esse pós-graduado em hipocrisia:

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
pois é, disciplinas + GRECOS + congressos + artigos geram uma demanda por leitura mais durona que praticamente vai me tirando o folêgo pros romances, biografias, contos, crônicas etc. E fico só sonhando com as férias. Mas vez por outra consigo dar uma soluçada e dar uma boa lida em alguma coisa aprazível, mesmo nesses meses atolados de outras leituras.

No início do semestre, tive o prazer de ler, apresentada pelo querido Lucas Waltenberg, a série policial sueca Millennium, de Stieg Larsson (Companhia das Letras). Os homens que não amavam as mulheres, A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar são os três volumes que compõem a trama de tirar o fôlego, que gira em torno mais especificamente de dois personagens sensacionais - o jornalista Mikael Blomkvist e a racker Lisbeth Salander. Sinceramente, num consegui parar de ler. E fazia tempo que um personagem jornalista num me parecia tão bacana, sem parecer cabotino ou cínico. Quase que deu pra eu me apaixonar pela profissão de novo. ;) O único problema, pelo menos pra mim, foi me acostumar com os nomes suecos, que me causam muito estranhamento (tanto os dos personagens quanto os dos lugares e instituições). Mas isso foi bem no comecinho, depois fluiu que foi uma beleza.

Li outros da série da ed. Contexto sobre nacionalidades: Os americanos, de Antonio Pedro Tota (legal) e Os espanhóis, de Josep Buades (chatinho). Sempre dá pra aprender alguma coisa, mas que diferença para o dos chineses, escrito pela Claudia Trevisan, sobre o qual já comentei aqui! Enquanto esse último era agradável, cheio de detalhes históricos, antropológicos, sociológicos, mas com texto leve e gostoso de ler, os outros dois que citei, talvez por serem escritos por historiadores de formação, são bem mais pesados, mais rasos em riqueza cultural, cansando mais o leitor com datas, nomes, feitos (de qualquer forma, o do Tota é mais agradável do que o do Buades, que ainda por cima, por ser espanhol, por vezes fica meio ufanista). Com mtas exceções, evidentemente, como vez por outra os textos produzidos por historiadores sobre temas interessantes acabam sendo malésimos de ler, né, não? Uma pena. Aí desanimei de ler sobre os japoneses e os italianos, que também comprei. Mas nas férias me motivo, prometo. PS minúsculo no fim do contrato: só se não forem chatos, se não quebro a promessa, hehe.

Semana passada, já meio no desespero, li as crônicas repletas de memórias da cantora Joyce, reunidas no livro Fotografei você na minha rolleyflex (RJ, Multiletra, 1997). Tava perdido aqui em casa, provavelmente comprado pela minha mãe, mas eu sempre tenho um pouco de preguiça com esse povo da bossa nova, aí nunca tinha lido. Olha, é legal, num é uma brastemp, mas diverte, é pitoresco, Joyce parece ser uma pessoa bacana etc. Gostei muito do capítulo sobre as "eras" de Vinícius de Moraes, que era como os amigos se referiam às diversas fases pelas quais ele passava na vida de acordo com a mulher com quem estivesse casado (e foram muitas!). Até fiquei interessada em reler os poemas dele a partir do contexto histórico das eras (para quem ele escreveu o quê?), quem sabe eu arranje um tempinho pra pesquisar isso? E me chamou a atenção no livro, talvez porque eu esteja centrada na temática da juventude, a saudade da Joyce dos seus vinte anos e da vida que se levava no Rio de Janeiro nas décadas de 60 e 70. Claro que ela não é a única, esse é um topos comum nas memórias e biografias que voltam-se para o período. Mas é interessante como a nostalgia encerra naqueles tempos toda a possibilidade de se viver bem, fazendo com que os períodos posteriores sejam um nada.

Maria Rita Kehl, em ótimo artigo sobre juventude (em que ela afirma que a mesma é um sintoma da modernidade), chama a atenção sobre o quanto as pessoas tendem a se referir a esse período mágico - em que se tem vinte anos de idade - quando utilizam a expressão "no meu tempo". O tempo da nostalgia, aquele que serve como referência, o tempo que figura como marco, é o dos 20 anos. Os demais são, de forma geral, um fora do tempo. Lembro disso quando penso na Beatriz Sarlo, em Cenas da vida pós-moderna, dizendo que o rock foi possivelmente o último desafio juvenil, lá na p. 35, desconsiderando todos movimentos juvenis de contestação posteriores (num será um "no meu tempo" que escapuliu? Talvez sim, considerando que ela nasceu em 1942 e o momento de efervescência do rock combina com os seus vinte anos).
E penso muito nisso também quando quando leio, no livro da Joyce, trechos como o da p. 127, quando ela diz estar se "referindo a coisas um pouco estranhas para este final de século [leia-se virada para 2000], como arte, criação e outras inutilidades". Ou, mais ainda, quando afirma que "talvez seja mais feliz quem ficou pelo caminho, sem presenciar o fim do sonho", na bela crônica "Experiências". O fim do "no meu tempo" não mata só a juventude da autora, mas o próprio sonho. E, se como afirma Norbert Elias, morrer é não sonhar, o fim da juventude, na contemplação nostálgica de Joyce e de tantos de nós, seria o fim da vida, embora ela siga, com suas outras fases e eras. Sei lá, prefiro a lição do poetinha, de que a gente vai recomeçando sempre, cada era com suas estrelas e sonhos.
Pra terminar, e sendo justa com a autora, vamos curtir o momento nostalgia de Joyce em uma música deliciosa, "Monsieur Binot":

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Série nova. Chega de só falar bem do que leio, vejo etc. aqui nesse blog.

Pois bem, cheia de vontade fui ler a biografia do Antonio Maria, "Um homem chamado Maria", escrito pelo Joaquim Ferreira dos Santos (cujo estilo meio engraçadinho de escrever já tinha me dado uns engasgos em crônicas e no livro "1958", mas nada muito grave).

Mas agora ele se superou. Prefiro só reproduzir alguns trechos abaixo, sobre o bairro de Copacabana nos anos 50, me abster dos coments e deixar esse deleite pra vcs:

"Costuma-se dizer que o bairro naquela época era uma imensa vila habitada exclusivamente pela classe média. Os paraíbas e os suburbanos, nossos visigodos étnicos, já estavam por lá. Mas eram poucos, serviam apenas, como se fosse num filme da Metro, para dar cor exótica, tropical. O Rio perigoso estava bem definido: Lapa, Mangue, praça Mauá. Em Copacabana, podia-se andar de bonde com os destituídos e estes não se achavam agredidos nem com direito a qualquer rapinagem". (p.65).

Pensa que acabou???

"A classe média e os ricos, como se vê, eram maioria, mandavam. Havia espaço para curtir civilizadamente a solidão. (...) Escolhia-se: amar, sofrer, esquecer, se divertir. Mas tudo em paz. Sérgio Dourado e o Julio Bogoricin ainda não tinham enchido aquilo de quitinetes baratas, trazendo atrás o barulho dos carros, a poluição e o séquito de miseráveis despejados da sorte. A imprensa, por sua vez, ainda não havia ensinado o brasileiro a sonhar com o dia em que, conseguida a ascensão social, moraria ali" (p.65)

Já tava de bom, num tava? Mas não, a pessoa sempre pode se superar. Vamos adiante:

"O clima era de que todos se conheciam, se reconheciam, como privilegiados, e assim caminhavam, juntos e felizes, para as sessões do cinema Rian. Na bilheteria, acreditem, ainda não havia aquela criancinha remelenta te olhando comprar o ingresso e suspirosa de uma migalha qualquer de troco."(p.66).

Óbvio que parei de ler o livro nesse momento. Como pode isso, gente? Muita, mas muita vergonha alheia.

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:






Li tanta coisa boa nestas férias que não resisto de comentar aqui, já que no twt num teria como dar conta do que quero dizer nos míseros 140 caracteres.

Pra começar, li três livros que de alguma forma estavam ligados ao tema da família. Em dois, esta era pensada em retrospectiva, através de jogos de memória, sobre os quais quero falar adiante. No terceiro, a família era projetada prospectivamente, rumo a um futuro sem data mas não muito distante. Nos dois primeiros, guerras concretas - a primeira e a segunda guerras mundiais - aniquilivam os sonhos daquelas pessoas e interferiam diretamente no rumo não só daquelas famílias mas das sociedades nas quais estavam inseridas. No terceiro, algo mais poderoso do que uma guerra - a hecatombe total, o fim de tudo, cinzas, trevas e caos -, ainda que não nomeado, ameaçava de modo mais claro ainda pôr fim não só aos sonhos e à família protagonista, mas à humanidade como um todo.

Mas chega de lead surpresa (hehe, homenagem às minhas queridas Lu e Tati). Estou falando especificamente de três livros: 1) Léxico familiar, de Natalia Ginzburg (sim, é a mãe do Carlo, amado historiador e muito usado em meus cursos de cultura popular), publicado pela Cosac & Naif em 2009; Alfred e Emily, da prêmio Nobel Doris Lessing (Cia das Letras, 2009); e, por fim, A Estrada (já transformado em filme), de Cormac McCarthy (o mesmo de "Onde os fracos não têm vez", também filme premiado), editado pela Alfaguara em 2007.

Em Léxico familiar, Ginzburg aborda a vida de sua família no período que antecede a Segunda Guerra Mundial e durante a mesma. Trata-se de uma linda construção de memória da vida privada, privilegiando principalmente modos de falar, de comer, de ver o mundo, de pensar. Através daqueles personagens humaníssimos, Natalia Ginzburg não só descreve sua própria família, mas um pouco a nossa (claro que estou tomando como referência a família ocidental etc. etc. etc.). E o fim daqueles valores e visões de mundo, transtornados pela Guerra, é também o marco da passagem de um estilo de vida mais simples para a modernização e aceleração do pós-guerra. No excelente posfácio (aliás, que edição cuidadosa da Cosac & Naif, parabéns!), Ettore Finazzi-Agró lembra que quando o livro foi lançado na Itália, em 1963, muitos o compararam, em termos da utilização de um enfoque sobre a família para descrever as mudanças dos tempos e as transformações sociais, com O Leopardo, de Tomás de Lampedusa. Eu, que sou muuuito fã do livro da Lampedusa (magistralmente filmado por Visconti, perfeito pra entender a transformação do estilo de vida principesco para o burguês), concordo plenamente. Livro lindo, esse Léxico familiar, valeu muito tê-lo lido.

A memória também está no centro do livro da Lessing. Mas aí o jogo de recordar e recriar é ainda mais poderoso. A autora resolve, quase aos 90 anos, acertar as contas com as dores familiares, e escreve um livro de perdão, lindíssimo. Com a seguinte estrutura: na segunda parte, ela conta o que de fato aconteceu com seus pais a partir da primeira guerra, quando seu pai é ferido em combate e perde uma das pernas, e ambos vão criar os filhos em uma fazenda na Rodésia, no sul da África do Sul, onde sua mãe sofre com uma intensa depressão que a afasta fortemente dos filhos. Trata-se de uma vida dura, triste, atravessada pelo trauma da guerra, que aniquila os sonhos e projetos daqueles dois. Pois bem, na primeira parte do livro, em uma demonstração de generosidade e reconhecimento à dor dos dois, Doris Lessing resolve recriar, de forma livre, a história de seus pais caso não tivesse havido a primeira guerra. Não vou contar aqui para não estragar. Mas comparar as duas histórias é triste e comovente. Um show de escrita, vou te falar.

Por fim, A Estrada, do McCarthy. Olha, desolador. Também muito bem escrito, já com cara de roteiro pra cinema, mas você lê num folêgo só. Pai e filho vão atravessando uns Estados Unidos sem vida, lutando pra sobreviver, temendo qualquer ser humano, tentando não sucumbir à animalização, só tendo um ao outro como amparo. O jogo da memória é também elemento central, principalmente no que se refere aos esquecimentos e embaçamentos que ela sempre provoca. Devorei esses três livros, realmente um achado.

Li mais dois: as deliciosas impressões de viagem de Maiakóvski quando esteve no México e nos EUA nos anos 20 (que, não por acaso, escolhi ler em NY), Minha Descoberta da América (Martins, 2007). Novamente, em jogo a questão da memória. E nesse caso, claramente a dimensão projetiva da memória, afinal, trata-se da visão de um russo sobre a américa capitalista. Muito divertido de ler, inclusive. E em inglês (num tive jeito, já que meus livros acabaram logo lá), A little history of the world, um divertido e por vezes surreal livro, mas muito legal, de E. H. Gombrich (sim, aquele da história da arte). Olha, só a história do surgimento desse livro, contada no prefácio por sua neta, já vale lê-lo. Num vou contar pra num estragar. Mas é tudo legal.

E estou lendo, pra terminar as férias, por empréstimo de meu irmão Luiz, Os chineses, de Claudia Trevisan (ed. Contexto, 2009). Aliás, a Contexto está lançando vários desses, tipo "Os franceses", "Os russos" etc. Pode parecer bobagem, coisa superficial, mas este dos chineses é ótimo. Bem escrito, interessante, cheio de dados legais, com fatos históricos mas também pitorescos, tô aprendendo pra caramba

Rentoso esse período, né, não? Agora, com as aulas começando, é só pedreira. Mas em janeiro tem mais. Hehe, quem me conhece sabe que vou dar escapulidas no decorrer do semestre. ;) Mas essa porção gorda e deliciosa, só nas férias mesmo. Peninha!
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:

Terminei de ler, como um raio, a belíssima homenagem de Paula Dip a Caio Fernando de Abreu, através do livro "Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando de Abreu" (Rio de Janeiro, Record, 2009). Comprei meio sem querer, por sugestão de Dessa, quando estava escolhendo livros pra levar na minha viagem pra NY. Acabei lendo antes de ir, depois de cair naquele velho truque de "vou dar só uma folheadinha pra ver qual é"...

Num me arrependo, é muito bonito o livro! Ela, muito amiga dele a vida toda, faz um relato de histórias, afetos, coisas raras, "pequenas epifanias", como chama o próprio Caio a essas jóias raras e efêmeras que a vida nos traz. Bem escrito e tocante, como um bom livro, ao menos pra mim, deve ser. :) Queria destacar um trecho, tirado de uma das inúmeras belas cartas escritas por Caio, citada por Paula Dip na p. 228:

"Deve ser o tempo, a proximidade dos 40 anos (que meeeeedo), as nossas células e neurônios fatigados, mas vai baixando uma humildade tão grande. Reduzi tanto meus sonhos, minhas fantasias, minhas esperanças. Ando espantado com o Tempo. O tempo é a única coisa terrível que existe. O tempo que passa e leva de arrasto, aparentemente aleatório, a juventude nossa e a dos outros. Não é amargo, é apenas real. Só hoje começo a compreender certa expressão de espanto inconsolável que muitas vezes percebi nos olhos de meu pai. Meus próprios olhos estão ganhando pouco a pouco uma expressão semelhante".


Minha história com Caio também tem lá seus momentinhos. Não lembro quando li seus escritos pela primeira vez, mas lembro que foi "Morangos mofados", que fiquei impressionadíssima, especialmente com o conto "Sargento Garcia", e que li o livro algumas vezes. Depois ganhei o "Triângulo das águas" com uma dedicatória inesquecível e num momento inesquecível de Tânia Neves, pra mim a Cachs. E lembro de ter ficado muito impactada com esse livro tb. Já tinha lido "Os Dragões..." e crônicas esparsas do Caio, e já estava irremediavelmente apaixonada por ele. Lembro-me que senti de forma forte a notícia de sua morte (como muitos, acompanhei suas crônicas em que ele falava sobre a doença), o que só se repetiu duas vezes com pessoas públicas pra mim (Renato Russo e Marcelo Mastroiani). E recentemente ganhei de presente,veja só, exatamente pelos meus 40 anos!, o livro "Pequenas epifanias" do Caio, com belíssima dedicatória de meu amigo Dênis de Moraes, um declarado apaixonado pelo autor.

Ter lido esses fragmentos de memória e amor acerca do Caio, neste momento, me fez muito bem. Coisa boa é ser humano de verdade, idiossincrático, sem dúvida, mas criando, gerando, fazendo história, e não destruindo, vampirizando, vuduzando a vida alheia. Obrigada, Caio, mais uma dívida com você.
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:

E as músicas que num me falavam nada, achava até chatinhas??? Ouço agora e elas fazem tanto sentido, dá vontade de pedir perdão pro compositor. :)

Pra começar, "Tesouro da juventude", de Tavinho Moura e Murilo Antunes, que ouvia na voz de Beto Guedes.

"A pedalar
camisa aberta no peito
Passeio macio
Levo na bicicleta
O meu tesouro da juventude
Passo roubando fruta de feira
Passo a puxar meu estilingue
Vai pedra certeira no poste
Passa um veterano
e já cansado
Herói de guerra
E grito: lá vem a bomba!
E meu tesouro me leva
pelas ruas de Santa Teresa
A pedalar
encontro amigo do peito
sentado na esquina
Pula, pega garupa
Segura o bonde ladeira acima
Ganha o meu tesouro da juventude
Ainda que a cidade anoiteça
Ou desapareça
Piso no pedal do sonho
E a vida ganha mais alegria
Ganha o meu tesouro da juventude
Que foi em Pedra Azul
E em toda parte
Onde tive o que sou"
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Estou inaugurando série nova, com o sugestivo título de "Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo", trecho de uma música que amo do Ira. O objetivo dessa série é revelar coisas que não faziam o menor sentido pra mim quando jovenzita, lá pelos 18, 20 anos, e que depois, meu Brasil!, fizeram muuuuito sentido, até demais. Pra começar:


CABELOS BRANCOS!!!




Nunca pensei que meus cachos de graúna um dia sofreriam desse mal. Ou q isso iria me incomodar. Mas, ó, vou falar: ODEIO!
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
LOST acabou semana passada. Sei que muita gente já falou sobre isso, mas quero pitacar um pouco também (blog é pra isso, né mermo?). Afinal, foram longos seis anos acompanhando uma série genial, na minha concepção, da qual sentirei muita, mas muita saudade mesmo.

Primeiro quero falar da série em si. Nem preciso me referir aprofundadamente às quebras narrativas. Todo mundo já falou disso, e achei muuuuito genial, pioneiro, original etc. Amei o clima de mistério, a construção das personagens na ilha e fora dela, os sustos, as explicações, as teorias, as horas que passei navegando lendo e me informando sobre LOST, minha ansiedade esperando para baixar os episódios, sua capacidade transmidiática, o show de atuação de seu elenco (com as exceções etc., tipo fiasco Santoro) e, principalmente, as histórias de amor, amizade, superação, heroísmo, ambiguidades, maniqueísmos e quebras dos mesmos, enfim, eu amei o caráter humaníssimo da série. Me identifiquei, sofri, chorei, fiquei pasmada algumas vezes, num entendi nada tantas outras, fiquei em êxtase quando as tramas faziam sentido, achei alguns episódios perfeitos, enfim, mais uma vez tive que berrar, ai que delícia é a cultura de massa! :)

Sobre o final, quero falar especialmente. Muita gente odiou. AMEI, AMEI, AMEI. Cada um tem o direito a achar o que quiser, é claro. Mas tem gente que num gostou meio pq num entendeu a estrutura narrativa. Não, não estavam todos mortos na ilha. O último a morrer na ilha, pelo menos aos nossos olhos de espectadores, foi Jack (cena linda!). Outros escaparam. Não sabemos o que aconteceu com eles depois, não nos foi mostrado. A história da ilha de LOST e seus estranhos mistérios (em sua maioria, ao menos) foram fechados com a morte de Jack. Finito.

Mas os roteiristas resolveram nos dar um presente. E nos deixaram assistir, de forma paralela ao que estava se desenrolando na Ilha, o que aconteceria, de forma mística, numa vida pós-morte. A gente assistiu paralelamente, algumas coisas se cruzaram paralelamente (se não, num seria LOST, né?), mas mesmo conectada com a história da ilha, aquela que víamos como paralela era, na verdade, uma história posterior à morte de todos os personagens, mas que só poderia ser vivida e percebida por eles quando o herói da série cumprisse sua missão, se sacrificasse e finalmente percebesse que a fé superava a ciência. Quando isso acontecesse, aqueles sujeitos, que eram os perdidos no mundo antes de se perderem na ilha, teriam chance de encontrarem, se reconhecerem e viverem finalmente uma vida de amor e redenção (a porta estava aberta e o Pastor Cristão - Christian Shepard - estava mostrando o caminho). Antes disso, porém, enquanto esperavam o momento do reencontro, todos teriam tido a chance, ao menos os que estavam prontos (não é a isso que se refere Hurley quando fala que Ana Lucia ainda não poderia saber do que estava acontecendo?), de ter reescrito um pouco suas vidas, de forma a ajeitar algumas pendências da vida anterior. Quase uma limpeza de karma. :) Mais ainda, para além da metáfora da vida, uma forma de nos dizer, eles, roteiristas, que aqueles personagens não morreram também para nós, que suas histórias os transformaram e nos transformaram e que não seríamos brindados de forma acachapante com uma cena final de morte trágica do grande herói, tantas vezes chato, tantos vezes cético, mas tão retrato de nós todos, sem um abrandamento deste baque através de uma cena com todos se encontrando, se reconhecendo, se abraçando.

Místico? Cristão demais? Cafona? Pode ser tudo isso. Mas confesso que me tocou. Talvez pela minha fase de transformação, fico grata pelas metáforas ficcionais que falam de possibilidade de superação e recomeço, pela idéia de que as coisas não morrem mas se recriam, que nos lembram que é do encontro que nasce a mudança, de que as coisas idas não precisam ser findas e de que o amor é a tal da fonte de luz, o que faz de uma ilha perdida uma analogia com a vida da gente, suas perdas, mistérios, recuos, mortes e desrazões, mas sempre uma história que valeu a pena ser contada e ser vivida.

Para quem quiser mais coments, inclusive mais aprofundados sb a série e sb o final, recomendo as análise do Dude, we are Lost e as análises perfeitas do Leonardo "Jerry" em todos os tópicos de análise de episódios do fórum da comunidade Lost Brasil, no orkut.
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Noutro dia estava ouvindo rádio MPB quando Nelson Motta, no seu "sintonia fina", indicou a música "Alexandre", de Caetano Veloso, cantada por Adriana Calcanhoto em sua persona Partimpim. Pronto, pensei, eh vem chatice!

Mas quebrei a cara. A música é uma graça e Adriana dá um show nessa interpretação. Vou partilhar aq no link do Ytube, mas acho a versão ao vivo legal mas mais tumultuada do que a do disco, que baixei via emule. Mas dá pra conferir aqui. Eu virei fã, gostei muito.

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Tá certo. Já são dois posts sobre o cara. Mas é q eu acho que ele escreve muito, mesmo. E tenho uma leve impressão que não devo parar por aqui. :)

Acabei de ler o novo do Nick Hornby, Juliet, nua e crua (Rocco, 2010). Gostei muito. A trama gira em torno de um casal inglês na faixa dos 40 em crise no seu relacionamento há 15 anos. Em torno dessa relação, a obcessão por um cantor de relativo sucesso nos anos 80, que estaria condenado ao ostracismo absoluto se não fosse a internet e as possibilidades de comunicação que as redes sociais digitais permitem. E aí o livro fica duplamente genial: de um lado, uma abordagem sensível e irônica das relações amorosas e cotidianas, o que aproxima o livro de outros de Hornby e de muitos outros autores; de outro, uma leitura original, irônica e muito analítica do mundo contemporâneo e de sua interseção com as Novas Tecnologias de Comunicação e Informação, o que faz do livro um pioneiro. Eis a receita para um livro perfeito, na minha opinião, é claro: de um lado um mais do mesmo (conflitos em torno do amor), de outro algo bem original e ainda pouco explorado (a abordagem sb música e novas tecnologias), ao menos em romances. Bem, gostei muito e recomendo pra valer pros que estudam e se interessam por novas tecnologias, música digital, redes sociais e pessoas de um modo geral.

De brinde, uma daquelas frases de Hornby q marcam a gente pra sempre. Nessa, ele está refletindo sobre a escolha de Annie, a personagem feminina principal, que deixa de ser professora para ser diretora de um pequeno museu. Apesar de satisfeita com a escolha (mezzo satisfeita, como podemos ver na história), pois ela não gostava de dar aula, ainda assim ela sente saudades de alguns momentos. E aí Hornby nos presenteia com a mais precisa definição do que seja dar aula, pelo menos para mim, que tô há 17 anos nesse rolo (tá lá na pag. 41):

"Certo, havia algumas coisas de que ela sentia falta: aquele sentimento que tinha quando uma aula ia bem, quando tudo eram olhos brilhantes e uma concentração tão densa que parece quase úmida, alguma coisa que parece grudar na roupa".

Tem como não amar esse homem?
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:

Neste dia especial, um poema de presente: Lya Luft, "Canção do amor sereno".

Vem sem receio: eu te recebo/
Como um dom dos deuses do deserto/
Que decretaram minha trégua , e permitiram/
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,/
Que meus dedos não te prendam/
Mas contornem teu raro perfil/
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite/
E conforto, porto de partida para a fundação/
Do teu reino, em que a sombra/
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve/
Como se dançasse numa praia uma menina

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Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Sendo esse um botequim virtual, não poderia deixar de espelhar certas preferências de gosto da dona dessa Baiúca: pois eu sempre amei um botequim, um barzinho, com seus tira-gostos, tipos, cervejinha, coca-cola no gelo, barulho de risos, copos, cadeiras, conversas, lamentos. Na verdade, vou confessar, o Baiúca do Baudelaire era pra ser um bar de verdade, sempre tive esse sonho, mas num tenho muita paciência pra ter um bar real, tenho amigos q já foram donos de bar e sei a trabalheira q dá. Assim, me conformei com o Baiúca virtual mesmo.






Mas ontem, rodando pelas ruas de niter procurando um bom bar pra me divertir na véspera do feriado, senti uma tristeza nostálgica das grandes. Onde foram parar os botecos queridos da velha Niterói? Pois com exceção da Cantareira (Mãe D'agua, São Dondon,
Tio Cotó e Vestibular do chopp), do Bar dos Caldos e de outros poucos representantes (dentre eles o veterano e amado "jogados fora", o velho Steak House da madruga, e o Barroquinho, sobrevivente da velha guarda dos bares - onde a gente não ia muito, nos anos 80, pq o povo dizia que era "ponto de droga", hahahahahaha -, do Bar do Beco - dica da minha irmã, que afirma que junto com outro que ela vai no Campo de S. Bento - onde era o antigo Tringuilim, o novo não lembro o nome - são os únicos que prestam), os bares de raiz, hehe, desapareceram. Agora só restaurante a quilo metido a besta, botequim fake, bares caros q se acham, ai, saco!

Farei aqui, então, nostágica e protestando, um lamento-homenagem aos bares da minha vida boêmia em niterói (tenho certeza de que vou emocionar muitos amigos das antigas). Vamos lá ao rol da saudade:

- Em Icaraí - na Mariz e Barros, logo no comecinho, tinha o Aventuras na Roça, um sobrado gracinha, com milho cozido e vinho de maçã. Vc andava um pouco mais e dava no Cachaceria 7 virtudes, onde Tchelo tocava com Peter e a gente tomava cachaça Coquinho. Tchelo anos mais tarde passou a tocar no Dom Roale, tb ótimo, pertinho do Cinema Icaraí (que ainda funcionava), na Alvares. Na Belisário Augusto, o inesquecível W.O. (ai, como sonhei com ele ontem!), com aqueles tira-gostos inesquecíveis, em especial a carne seca com aipim. Na Pres. Backer, o Alfacinha (tb evitado porque era "ponto de drogas", hahahahahahaha), o 244 (em que eu e minha amiga Monica comíamos sardinha frita e derrubávamos muuuitas garrafas de cerveja nas terças de tarde) e o Farinata, em que o piano e o violão estavam sempre disponíveis pra quem tava a fim de fazer um som ou declamar uma poesia. Na Lemos Cunha com Mariz, Miguel e seu inesquecível Batipatu, com aquela gente louca e a batida de côco incomparável. Na Domingos de Sá, o Misasas e seus quitutes árabes, reunindo o povo do Salesianos, que também ia muito no Maralice, na esquina da 5 de julho com Ministro Octavio Kelly (hoje point insuportável de torcedores de futebol chatésimos). Ainda na Domingos de Sá, o Singular, mais intimista, bom pra levar o amor e ficar de chamego num papinho a dois (outro dia fui num mexicano aq em Pirá e a garçonete era a mesma do Singular, e vinte anos depois ficamos felizes mesmo com esse reencontro!). Em Santa Rosa, a gente praticamente morava na Casa Velha, bar da minha amiga Moniquinha, no final da Mario Vianna, e depois no Bar da Edna, outra amiga, esse um boteco de responsa no Beltrão. Na avenida 7, pertinho do valão, a maravilhosa e inesquecível picanha do Maurício, que depois migrou tb pra perto do valão (nem por isso a gente deixava de ir, hehe) na 5 de julho e na Lara Vilela, na esquina do jambeiro. Na Praia de Icaraí - sim, existiam bons bares na orla -, destaque para o Beer Standard, que ocupava um varandão enorme e muito gostoso na esquina da Pereira (hj o lugar é ocupado por um dos prédios mais metidos a besta de niterói), para o Giuseppe, do lado do Central, onde comíamos rã à milanesa (lembra, Gil?) e o Garota de Icaraí, perto da Oswaldo Cruz (íamos muito lá, eu e o povo do Globo Niterói, depois de fecharmos o jornal). Pra brincar de gincana cultural, o Via ápia, na esquina da Av. 7 com Roberto silveira. Na Noronha Torresão, havia o Bar da Déia, praticamente o único reduto gay feminino da cidade. E, pra encerrar, o memorável JP, bar do Duda e do Jorginho na João Pessoa, em que no fim das noites o Índio de Niterói - como esquecer? - adentrava ao som de todas as vozes presentes que o saudavam com um "Todo dia é dia de índio", enquanto ele sacava do arco e flecha e atirava! hahahahahaaha. Impagável!

- No Ingá e no centro - vou começar falando da Picanha do Maurício, que depois virou o Casa da sogra, na Lara Vilela ao lado do Solar do Jambeiro (a casa, não o restaurante, que já foi muito legal tb mas depois deu uma caída e ficou metido a besta). Logo em frente, num casarão lindo, o Parati, que primeiramente se chamou 4 gatos. Festivais de poesia, cervejadas, muitas noites namoradeiras, ai, ai... e uma justa homenagem final aos trailers do mirante onde hj está o MAC, lugar maravilhoso pra encerrar a noite e fazer um rala e rola no carro. Tudo bem q o MAC é lindo etc., mas preferia o mirante, eu juro! Os bares da velha e boa cantareira também marcaram época, em especial o Tio cotó, que amém permanece vivo. Mas o Castelinho e o He-man (esse na Praça do Rink), bares mais gays, faleceram, uma pena! Também acabou o pé-sujo ótimo que tinha na Estaçao das Barcas, fui muito lá quando trabalhei na coluna social da Estela Prestes, junto com meu amigo doido Púga (esqueci o nome, era meio americanizado - o nome, o bar era brasileiríssimo - alguém lembra?). Pra vc ver a tristeza, sinto saudade até dos botecos esfarrapados do Beco da Sardinha! E do bar do Maurício - outro, não o da picanha -, que ficava perto da Universo da Marechal Deodoro, e de um bar temático cafona de guerra que ficava em frente ao bloco A da Universo, sei lá, Kamikase, algo assim (novamente, alguém me ajuda?). Entre os blocos A e B da Universo, um senhor pé sujo, o Bar do seu Niltinho, com a cerveja sempre estupidamente gelada e o carinho do proprietário, que me dava leitinho frio (sem cobrar) quando eu tinha crise de gastrite no intervalo das muitas aulas q dava na Universo. No Centro, ainda resta pra nossa alegria e esperança o Caneco Gelado do Mário e o Monteiro, bravos resistentes! E o Cheiro de Mar tb permanece vivo e lotado nas noites de S. Domingos, com aquela vista espetacular da Ilha da Boa Viagem e da Baía de Guanabara (saudades dos sandubas com minha amiga Paulinha nas noites de volta da Castelo!).

- Em São Francisco, Charitas e Jurujuba - quase uma segunda casa na minha vida, o falecido Bigodão era meu point quase diário. Saudades imensas dos garçons, do chopp de lá q nunca mais tomei com tanto gosto e da pizza de alho com champignon. Mas a gente ia também no Céu Azul, em frente ao Bar do Lido (íamos menos nesse, pq o povo dizia que era "antro de prostituição", hahahahaha). Em Charitas, o Le Moustache (que era do mesmo dono do bigodão, mas sem o charme daquele, a gente só ia quando o primeiro estava lotado), um bar francês surreal com tochas na porta que a gente adorava (também esqueci o nome, alguém me ajuda?), o Cantinho na pedra (que ainda existe, felizmente), um bar de caldos maravilhosos em Jurujuba em que passei alguns aniversários (tb esqueci o nome, ficava numa curva perto do Pier 31, onde hoje o povo brinca de cantar no karaokê), o Farol de Jurujuba, com a melhor casquinha de siri do planeta, e o Tia Celina, q ainda existe mas perdeu parte de seu charme de comida caseira de vila de pescadores.

- Na Região Oceânica - numa região ainda praticamente despovoada, os bares eram surpreendentemente lotados. Tinha um na praia de Piratininga totalmente deserta, era um bar óooootimo, num lembro o nome, mas os drinks eram geniais, ele era bem rústico, bem no meio da praia... Tinha tb o inesquecível Poetas anônimos, com as batidas mais deliciosas do mundo (lembro que ganhei um concurso de crônicas promovido por eles com uma crônica sobre bares, que chamei de "Estereótipos anônimos", se eu achar aq vou publicar). E os dias praianos só faziam sentido se fossem encerrados com uma caipirinha no Recanto das garças, um camarão com catupiry no Canoas (ainda existe, amém), um peixe ensopado no Tibau (ainda existe, mas caidinho, caidinho) ou um bolinho de bacalhau com cerveja - infelizmente, a única q eles tinham era Kaiser, o que sempre nos deixava passando mal, mas a gente era persistente! - no Barril 3000. Graças aos céus, Seu Antonio segue vivo e forte, e depois ganhamos o Veranda, com uma batida de cupuaçu de beber de joelhos, de tão gostosa (PS. de abril/2010: infelizmente, estive lá recentemente e a batida num era mais a mesma. Q pena!). Mas os demais faleceram todos.

Bem, acho q ainda faltam alguns, mas ficarei esperando a contribuição de outras vozes. Por agora seguirei no meu boteco virtual, sonhando com os bares em que amei e onde vivi muitas histórias que agora me emocionam e me fazem lembrar de dias felizes, amores, amigos, bebidas e cigarros, violão, olhares 43 e muita, mas muita sede de viver. Que nunca me falte nada disso, nem virtual nem pessoalmente!

PS.1: Pedro Curi, pessoa boa, me lembrou que o nome do bar no campo de S. Bento é Novo Ponto (falando nisso, recentemente estive lá e comi um filezinho aperitivo q estava delicinha).

PS.2: esqueci de incluir alguns bares inesquecíveis na listagem aí de cima (um deles lembrado por minha irmã): o Duerê, em Pendotiba, onde vi Zélia Duncan, então Zelia Cristina, dar uma canja fabulosa num show em que Vinicius Cantuaria deu uma escrotizada (o show era dele, ele ficou com raivinha por um rolo envolvendo carro/vaga, deu meia hora de show e foi embora, alguém crê?). Zelia tava na platéia, era amiga dos donos da casa (Marilda, Cristina etc.) e deu uma canja de 1 hora! Maravilhosa. Depois até fiz matéria com ela pro Globo Niter. No Duerê tb fui juri de festival fabuloso de esquetes ( "Cai a noite em Acapulco", hahahaaha, nunca esquecerei o quanto ri), fiz apresentação de poesia com Si Ferraz, enfim, era um bar realmente inesquecível; tb o Nó na madeira, em Pirá, onde assisti bons shows e rodas de samba; e o Candongueiro, em Rio do Ouro, que ainda existe mas sem o charme dos bons dias, penso eu. Muito samba de primeira e bons amigos, sinto saudades do Candonga; o Latino, que ainda existe ali ao lado do Plaza, que frequentávamos muito quando o ICHF ainda era no Valonguinho; em Sanfran, esqueci de falar do Velho Armazem, ainda forte por lá, que já foi Bar Luiz (ainda considero o melhor chopp escuro de Niter); e o Devassa, que ficou pouco tempo funcionando, mas que rendeu bons chopps escuros, drinks perversos que me deram ressacas monstruosas e um caldinho de feijão q eu amava; e atualmente, mil palmas para os petiscos e o chopp delicioso do Outback, que tem salvo nossa vida em muitos momentos.

PS.3: e no momento atual, preciso por justiça incluir o Coahuila, bar mexicano no trevo de Pirá. Drinks deliciosos, em especial o Frozen, a Mexilada e o inesquecível Alexander. E os comes tb são de prima. Tá cotado!

Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Depois de um longo silêncio neste blog - era preciso um tempo de silêncio para que eu pudesse me ouvir um pouco -, eis-me novamente resmungando por aqui.

Falarei hoje do livro que terminei recentemente de ler (mais uma vez, obrigada, querido Marildo, pelo empréstimo e pela dica), "O filho da mãe", de Bernardo Carvalho. Literatura densa, bem escrita, soco no estômago, relações familiares, amor, perda, barbárie e novamente "A montanha mágica", em seu final estonteante, atualizado no final pancada de "O filho da mãe": guerras diferentes, a mesma dor, o mesmo desperdício humano, bildung inútil escorrendo pela neve...

Sou fã de B. Carvalho desde que li o genial "Nove noites". Depois li "Mongólia" e "O sol se põe em São Paulo" (empréstimos de Marildo e Marcel, junto com Maurinho Parada meus principais "fornecedores" desses empréstimos literários), dos quais gostei mais ou menos (o segundo gostei mais, Mongólia achei bem chato).

Agora, graças à dica de @Di_junior, aluno de Estudos de Mídia, li o maravilhoso e genial conto "Estão apenas ensaiando". Vale a pena conferir aqui.

Bem, são resmungos de gosto de leitura. Tem gente q adora tudo do cara, tem gente q nem gosta. Eu, sinceramente, acho que veio pra ficar.