Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Sendo esse um botequim virtual, não poderia deixar de espelhar certas preferências de gosto da dona dessa Baiúca: pois eu sempre amei um botequim, um barzinho, com seus tira-gostos, tipos, cervejinha, coca-cola no gelo, barulho de risos, copos, cadeiras, conversas, lamentos. Na verdade, vou confessar, o Baiúca do Baudelaire era pra ser um bar de verdade, sempre tive esse sonho, mas num tenho muita paciência pra ter um bar real, tenho amigos q já foram donos de bar e sei a trabalheira q dá. Assim, me conformei com o Baiúca virtual mesmo.






Mas ontem, rodando pelas ruas de niter procurando um bom bar pra me divertir na véspera do feriado, senti uma tristeza nostálgica das grandes. Onde foram parar os botecos queridos da velha Niterói? Pois com exceção da Cantareira (Mãe D'agua, São Dondon,
Tio Cotó e Vestibular do chopp), do Bar dos Caldos e de outros poucos representantes (dentre eles o veterano e amado "jogados fora", o velho Steak House da madruga, e o Barroquinho, sobrevivente da velha guarda dos bares - onde a gente não ia muito, nos anos 80, pq o povo dizia que era "ponto de droga", hahahahahaha -, do Bar do Beco - dica da minha irmã, que afirma que junto com outro que ela vai no Campo de S. Bento - onde era o antigo Tringuilim, o novo não lembro o nome - são os únicos que prestam), os bares de raiz, hehe, desapareceram. Agora só restaurante a quilo metido a besta, botequim fake, bares caros q se acham, ai, saco!

Farei aqui, então, nostágica e protestando, um lamento-homenagem aos bares da minha vida boêmia em niterói (tenho certeza de que vou emocionar muitos amigos das antigas). Vamos lá ao rol da saudade:

- Em Icaraí - na Mariz e Barros, logo no comecinho, tinha o Aventuras na Roça, um sobrado gracinha, com milho cozido e vinho de maçã. Vc andava um pouco mais e dava no Cachaceria 7 virtudes, onde Tchelo tocava com Peter e a gente tomava cachaça Coquinho. Tchelo anos mais tarde passou a tocar no Dom Roale, tb ótimo, pertinho do Cinema Icaraí (que ainda funcionava), na Alvares. Na Belisário Augusto, o inesquecível W.O. (ai, como sonhei com ele ontem!), com aqueles tira-gostos inesquecíveis, em especial a carne seca com aipim. Na Pres. Backer, o Alfacinha (tb evitado porque era "ponto de drogas", hahahahahahaha), o 244 (em que eu e minha amiga Monica comíamos sardinha frita e derrubávamos muuuitas garrafas de cerveja nas terças de tarde) e o Farinata, em que o piano e o violão estavam sempre disponíveis pra quem tava a fim de fazer um som ou declamar uma poesia. Na Lemos Cunha com Mariz, Miguel e seu inesquecível Batipatu, com aquela gente louca e a batida de côco incomparável. Na Domingos de Sá, o Misasas e seus quitutes árabes, reunindo o povo do Salesianos, que também ia muito no Maralice, na esquina da 5 de julho com Ministro Octavio Kelly (hoje point insuportável de torcedores de futebol chatésimos). Ainda na Domingos de Sá, o Singular, mais intimista, bom pra levar o amor e ficar de chamego num papinho a dois (outro dia fui num mexicano aq em Pirá e a garçonete era a mesma do Singular, e vinte anos depois ficamos felizes mesmo com esse reencontro!). Em Santa Rosa, a gente praticamente morava na Casa Velha, bar da minha amiga Moniquinha, no final da Mario Vianna, e depois no Bar da Edna, outra amiga, esse um boteco de responsa no Beltrão. Na avenida 7, pertinho do valão, a maravilhosa e inesquecível picanha do Maurício, que depois migrou tb pra perto do valão (nem por isso a gente deixava de ir, hehe) na 5 de julho e na Lara Vilela, na esquina do jambeiro. Na Praia de Icaraí - sim, existiam bons bares na orla -, destaque para o Beer Standard, que ocupava um varandão enorme e muito gostoso na esquina da Pereira (hj o lugar é ocupado por um dos prédios mais metidos a besta de niterói), para o Giuseppe, do lado do Central, onde comíamos rã à milanesa (lembra, Gil?) e o Garota de Icaraí, perto da Oswaldo Cruz (íamos muito lá, eu e o povo do Globo Niterói, depois de fecharmos o jornal). Pra brincar de gincana cultural, o Via ápia, na esquina da Av. 7 com Roberto silveira. Na Noronha Torresão, havia o Bar da Déia, praticamente o único reduto gay feminino da cidade. E, pra encerrar, o memorável JP, bar do Duda e do Jorginho na João Pessoa, em que no fim das noites o Índio de Niterói - como esquecer? - adentrava ao som de todas as vozes presentes que o saudavam com um "Todo dia é dia de índio", enquanto ele sacava do arco e flecha e atirava! hahahahahaaha. Impagável!

- No Ingá e no centro - vou começar falando da Picanha do Maurício, que depois virou o Casa da sogra, na Lara Vilela ao lado do Solar do Jambeiro (a casa, não o restaurante, que já foi muito legal tb mas depois deu uma caída e ficou metido a besta). Logo em frente, num casarão lindo, o Parati, que primeiramente se chamou 4 gatos. Festivais de poesia, cervejadas, muitas noites namoradeiras, ai, ai... e uma justa homenagem final aos trailers do mirante onde hj está o MAC, lugar maravilhoso pra encerrar a noite e fazer um rala e rola no carro. Tudo bem q o MAC é lindo etc., mas preferia o mirante, eu juro! Os bares da velha e boa cantareira também marcaram época, em especial o Tio cotó, que amém permanece vivo. Mas o Castelinho e o He-man (esse na Praça do Rink), bares mais gays, faleceram, uma pena! Também acabou o pé-sujo ótimo que tinha na Estaçao das Barcas, fui muito lá quando trabalhei na coluna social da Estela Prestes, junto com meu amigo doido Púga (esqueci o nome, era meio americanizado - o nome, o bar era brasileiríssimo - alguém lembra?). Pra vc ver a tristeza, sinto saudade até dos botecos esfarrapados do Beco da Sardinha! E do bar do Maurício - outro, não o da picanha -, que ficava perto da Universo da Marechal Deodoro, e de um bar temático cafona de guerra que ficava em frente ao bloco A da Universo, sei lá, Kamikase, algo assim (novamente, alguém me ajuda?). Entre os blocos A e B da Universo, um senhor pé sujo, o Bar do seu Niltinho, com a cerveja sempre estupidamente gelada e o carinho do proprietário, que me dava leitinho frio (sem cobrar) quando eu tinha crise de gastrite no intervalo das muitas aulas q dava na Universo. No Centro, ainda resta pra nossa alegria e esperança o Caneco Gelado do Mário e o Monteiro, bravos resistentes! E o Cheiro de Mar tb permanece vivo e lotado nas noites de S. Domingos, com aquela vista espetacular da Ilha da Boa Viagem e da Baía de Guanabara (saudades dos sandubas com minha amiga Paulinha nas noites de volta da Castelo!).

- Em São Francisco, Charitas e Jurujuba - quase uma segunda casa na minha vida, o falecido Bigodão era meu point quase diário. Saudades imensas dos garçons, do chopp de lá q nunca mais tomei com tanto gosto e da pizza de alho com champignon. Mas a gente ia também no Céu Azul, em frente ao Bar do Lido (íamos menos nesse, pq o povo dizia que era "antro de prostituição", hahahahaha). Em Charitas, o Le Moustache (que era do mesmo dono do bigodão, mas sem o charme daquele, a gente só ia quando o primeiro estava lotado), um bar francês surreal com tochas na porta que a gente adorava (também esqueci o nome, alguém me ajuda?), o Cantinho na pedra (que ainda existe, felizmente), um bar de caldos maravilhosos em Jurujuba em que passei alguns aniversários (tb esqueci o nome, ficava numa curva perto do Pier 31, onde hoje o povo brinca de cantar no karaokê), o Farol de Jurujuba, com a melhor casquinha de siri do planeta, e o Tia Celina, q ainda existe mas perdeu parte de seu charme de comida caseira de vila de pescadores.

- Na Região Oceânica - numa região ainda praticamente despovoada, os bares eram surpreendentemente lotados. Tinha um na praia de Piratininga totalmente deserta, era um bar óooootimo, num lembro o nome, mas os drinks eram geniais, ele era bem rústico, bem no meio da praia... Tinha tb o inesquecível Poetas anônimos, com as batidas mais deliciosas do mundo (lembro que ganhei um concurso de crônicas promovido por eles com uma crônica sobre bares, que chamei de "Estereótipos anônimos", se eu achar aq vou publicar). E os dias praianos só faziam sentido se fossem encerrados com uma caipirinha no Recanto das garças, um camarão com catupiry no Canoas (ainda existe, amém), um peixe ensopado no Tibau (ainda existe, mas caidinho, caidinho) ou um bolinho de bacalhau com cerveja - infelizmente, a única q eles tinham era Kaiser, o que sempre nos deixava passando mal, mas a gente era persistente! - no Barril 3000. Graças aos céus, Seu Antonio segue vivo e forte, e depois ganhamos o Veranda, com uma batida de cupuaçu de beber de joelhos, de tão gostosa (PS. de abril/2010: infelizmente, estive lá recentemente e a batida num era mais a mesma. Q pena!). Mas os demais faleceram todos.

Bem, acho q ainda faltam alguns, mas ficarei esperando a contribuição de outras vozes. Por agora seguirei no meu boteco virtual, sonhando com os bares em que amei e onde vivi muitas histórias que agora me emocionam e me fazem lembrar de dias felizes, amores, amigos, bebidas e cigarros, violão, olhares 43 e muita, mas muita sede de viver. Que nunca me falte nada disso, nem virtual nem pessoalmente!

PS.1: Pedro Curi, pessoa boa, me lembrou que o nome do bar no campo de S. Bento é Novo Ponto (falando nisso, recentemente estive lá e comi um filezinho aperitivo q estava delicinha).

PS.2: esqueci de incluir alguns bares inesquecíveis na listagem aí de cima (um deles lembrado por minha irmã): o Duerê, em Pendotiba, onde vi Zélia Duncan, então Zelia Cristina, dar uma canja fabulosa num show em que Vinicius Cantuaria deu uma escrotizada (o show era dele, ele ficou com raivinha por um rolo envolvendo carro/vaga, deu meia hora de show e foi embora, alguém crê?). Zelia tava na platéia, era amiga dos donos da casa (Marilda, Cristina etc.) e deu uma canja de 1 hora! Maravilhosa. Depois até fiz matéria com ela pro Globo Niter. No Duerê tb fui juri de festival fabuloso de esquetes ( "Cai a noite em Acapulco", hahahaaha, nunca esquecerei o quanto ri), fiz apresentação de poesia com Si Ferraz, enfim, era um bar realmente inesquecível; tb o Nó na madeira, em Pirá, onde assisti bons shows e rodas de samba; e o Candongueiro, em Rio do Ouro, que ainda existe mas sem o charme dos bons dias, penso eu. Muito samba de primeira e bons amigos, sinto saudades do Candonga; o Latino, que ainda existe ali ao lado do Plaza, que frequentávamos muito quando o ICHF ainda era no Valonguinho; em Sanfran, esqueci de falar do Velho Armazem, ainda forte por lá, que já foi Bar Luiz (ainda considero o melhor chopp escuro de Niter); e o Devassa, que ficou pouco tempo funcionando, mas que rendeu bons chopps escuros, drinks perversos que me deram ressacas monstruosas e um caldinho de feijão q eu amava; e atualmente, mil palmas para os petiscos e o chopp delicioso do Outback, que tem salvo nossa vida em muitos momentos.

PS.3: e no momento atual, preciso por justiça incluir o Coahuila, bar mexicano no trevo de Pirá. Drinks deliciosos, em especial o Frozen, a Mexilada e o inesquecível Alexander. E os comes tb são de prima. Tá cotado!