Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:


episódio 1: tava passando pelo campo de são bento e um casal tava tentando se auto-fotografar no meio das árvores, ela grávida e ele todo bobo. Cheguei a passar, tava meio correndinha pra ir ao médico, mas resolvi voltar e me ofereci para fotografar os dois, pq achei a cena singela e bonita. Primeiro levaram um pouco de susto, depois agradeceram e sorriram para a foto e para mim quase que iluminando o dia. gentileza gera essa luz...

episódio 2: ainda no campo, vi passar três meninos, bem pequenos, com skate, fazendo manobras que nem os pinguins da bala halls, hehe, tudo feliz, de uniforme, na algazarra. Tinha visto os mesmos leleks no asfalto, na avenida roberto silveira, quando fui atravessar para pegar o campo de são bento, e eles estavam naquela faixa de ciclovia RIDÍCULA que a prefeitura de niterói inventou, que é cortada pelos pontos de ônibus e pelos carros que têm que virar à direita. Por várias vezes, os meninos quase foram atingidos pelos ônibus, que, com os motoristas estafados e mal preparados, são predadores urbanos. Quando os meninos passaram por mim novamente no campo, chamei: "ei, psiu, meninuuu, chega aqui". Pararam, meio desconfiados. Falei: "po, vcs estão andando super bem nesse skate, tão mandando mt bem, dá gosto de ver"! E eles: valeu, tia, valeu, tia, assim tímidos, mas gostando do elogio, e ainda desconfiados. Continuei: "po, mas num anda la no asfalto assim nao, pela pista, povo num respeita, e ai como é que fica? anda so aq no campo, fico preocupada c vcs, tao novinhos, mandando bem, mas correndo risco". Eles, ja sorrindo e relaxando: po deixa, tia, valeu, tia, manero, tia. e pronto, partiram riscando o chão com seus pés de sonho. adoro! Gentileza gera também essa leveza...

episódio 3: já saindo do campo (isso já tinha bicado o horário do médico, mas quem nunca?), fui abordada por um menino, uns 17 anos, afro-descendente, uniforme escolar, educadíssimo, me pedindo pra ajudar numa rifa pro colégio, "num se assusta não, num é assalto, só dois reais, senhora!, pra um evento da turma". Falei, beleza, pera. Catei no bolso de trás da calça, dois realzinho, dei pra ele, anotou meu nome na rifa, me deu o papel, sorriu bonito pra caramba pra me agradecer. Eu disse:" menino, como vc é bonito", e passei a mão de leve no rosto dele, mania que tenho de fazer com meus alunos de forma gera! Sorriu mais ainda e me abraçou meio sem jeito, aquele abraço meio de pai quando tá sem graça com filho, hehe, disse "obrigado, poxa!". e foi lá contar o din com os outros dois amigos q abordavam outras pessoas, olhando pra mim e sorrindo. Mais tarde, depois do médico, fui comprar uma bobagem pra comer e vi q tinha perdido dez reais que estavam no mesmo bolso.Torci pra ter perdido naquela hora e eles terem achado pra juntar na rifa. Gentileza gera um atraso no médico, uma nota perdida, um bando de caso bobo mas doce pra contar e uma penca de sorrisos iluminados... bem, essa foi uma pequena parte de meu dia doce e feliz. só partilhando.
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Mais um instigante artigo no Prosa e Verso de ontem sobre a polêmica dos concursos para professores, que já vem sendo discutida no caderno de O Globo há três sábados. Nele, o autor, Claudio Gurgel, questiona, como muitos de nós, os critérios produtivistas que vêm sendo usados para mesurar a qualidade do trabalho do docente universitário. Reproduzo abaixo parágrafo com o qual concordo inteiramente:
"A universidade tem três finalidades: o ensino, a pesquisa e a extensão, devendo estas atividades ser associadas – o que significa que são ângulos de uma pirâmide, que a apoiam e se apoiam. Entretanto, o mais importante e determinante órgão público com “a tarefa de coordenar a avaliação da pós-graduação”, como se lê no seu site, a CAPES, pouca importância dá às aulas ministradas, às orientações dadas, às bancas feitas, aos projetos de extensão, às atividades dos grupos de pesquisa, aos debates, às entrevistas concedidas e até mesmo aos trabalhos apresentados em congresso pelos professores do ensino superior. Nada disto tem peso expressivo na pontuação de um professor, segundo a CAPES".
Por tudo que faço, pela professora que sou, pelo quanto me dedico ao ensino e à extensão, me sinto profundamente injustiçada com esses critérios. Não sou e nunca serei uma máquina de produzir textos, embora como jornalista de formação isso seria muito fácil para mim, na boa, mas muito fácil mesmo... Mas considero que escrever e publicar é somente uma parte de meu trabalho, que tem outros ângulos, alguns dos quais me tomam um tempo imenso (preparação das aulas, por exemplo) e, embora sejam fator fundamental para que minhas aulas sejam sempre cheias e eu seja reconhecida como uma professora de qualidade, nada contam para a CAPES. Assim como outros colegas, por tudo o que faço e pelo reconhecimento que meu trabalho tem nesses vinte anos de magistério, me sinto prova viva e testemunho de como esses critérios produtivistas são reducionistas e não conseguem dar conta do que se pretende em termos de análise. E seguirei praticando a docência na qual acredito, eu e muitos de nós, que não se curvaram à aplicação da lógica perversa do capital e seus índices produtivistas a esse fazer cotidiano, subjetivo, intenso e complexo que é dar aula.
Para quem quiser ler o artigo todo, o link é esse (o texto está abaixo, pq não estou conseguindo linkar só para o artigo, intitulado "Concursos na universidade: voltando ao ponto". Antes desse, tem um outro, com o nome "Silêncio ensurdecedor", do Angelo Segrillo, que também toca no ponto dos concursos, tendo sido, inclusive, autor do primeiro artigo que iniciou a polêmica)
Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Ontem, dia 8 de agosto de 2013, tivemos a aula de encerramento do curso de Mídia e Mobilização Social, que tive a sorte e o azar, pelo mesmo motivo, de estar ministrando no curso de Estudos de Mídia justamente neste semestre em que eclodiram as manifestações todas nas ruas e nas redes sociais. Sorte e azar porque ficamos no olho do furacão, tivemos muito trabalho, eu e o querido Jader Moraes, meu orientando de mestrado e que dividiu essa disciplina comigo, para acompanharmos todos os acontecimentos, estarmos ligados, preparados para as discussões, que obviamente levaram os alunos também a ansiosamente se prepararem, lerem muito, participarem das manifestações, dos debates etc. Nunca aprendi tanto em um semestre como nesse, em tão pouco tempo. Evitei divulgar aqui que estava dando exatamente essa matéria, com esse nome, por que povo num ia me deixar em paz e por que as aulas, normalmente já muito cheias, ficariam impossíveis. Agora que acabou, posso falar sobre isso, sem estresse. Acho que estamos atravessando um momento fabuloso e que rende muita coisa para pensar, mas poucas vezes me senti tão weberianamente contemplada, por que como aprendi com esse amado pensador, a realidade como totalidade é inapreensível, e os recentes acontecimentos, nesse "mosaico de parcialidades", como disse o Capilé no "roda tonta", leia-se roda viva, mostraram isso de forma muito evidente. Apreendemos fragmentos, recortes, produções de sentido em mutação permanente. Isso é a vida e a ciência, como pretensão cartesiana, só pode se enganar e enganar aos demais. Acredito nessa ciência que curiosamente tenta compreender as ações sociais a partir de seus textos e contextos, seus atores e significados, suas lutas e processos, sem pretensão à verdade. Este foi um semestre maravilhoso para ensinar isso aos meus alunos. Mas também aprendi muito, com eles em sala, com tudo que li, ouvi, presenciei, discuti, com todos os maravilhosos convidados que aceitaram ir partilhar suas experiências generosamente conosco em sala de aula (o que inclui também o curso no PPCULT de Cultura e Práticas Sociais, que dividi com a amada Adriana Facina), também nos lembrando a vocação da universidade de ser um espaço plural, diverso, aberto para trocas e múltiplos sujeitos, o que ela historicamente se recusa a cumprir. Nossa luta política também passa por aí, por construir uma universidade menos torre de marfim, distinção, umbiguenta e preocupada com suas bestas lutas internas. Por fim, aprendi também coisas muito pessoais. A pedido do Jader e da Adriana, fiz um curso com mais gente falando, eu que tenho tendência a centralizar a sala quando estou dando aula. Foi dificil no começo, mas depois foi muito bacana e importante. Agora quero isso pra sempre. Em várias dessas trocas e conversas, a palavra "sonho" esteve muito presente. Muitos falaram sobre a necessidade de sonhar, do sonho não como fantasia mas como necessidade para continuar a viver mesmo em condições pouco generosas, do sonho como utopia possível. Ontem, na aula de encerramento, falamos sobre isso. E lembrei do meu sonho, no decorrer deste semestre, em que voltei a voar. Nunca mais tinha sonhado isso, e sonhei em meio a esses cursos, a essa experiência e momento de vida. Isso foi e está sendo maravilhoso. Viva a possibilidade de voltarmos a sonhar! Viva a possibilidade de conjugarmos o otimismo da  vontade com o otimismo do pensar. :) Obrigada a todos por esse semestre maravilhoso. E vamo q vamo!


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