Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Hj tive o desprazer de assistir ao inacreditável discurso da dep. estadual Myriam Rios (sim, ela foi eleita! Sim, me recuso a postar aq e ofender ao meu blog querido!) sobre suas posições acerca das leis anti-homofobia (ela está se opondo ao PEC 23/2007, que na surdina foi votado e derrubado no dia 21/06/2011. Saiba mais aqui e vejam no que dá ter tolerância com quem é intolerante. Mais uma regressão no campo legal, que lamentável!). Não deveria mais perder tempo com essa gente que não se sabe se age assim por má fé (que ironia, né?), ignorância, medo, obscurantismo, vontade de aparecer, ah, nem sei mais como classificar essa profusão de falas homofóbicas, preconceituosas e discriminatórias que são emitidas em público com um suposto aval da democracia, do livre pensamento religioso, do sei lá mais o quê. Para mim, são discursos ofensivos e empobrecedores do debate, mas, principalmente, extrapolam o campo dos argumentos e geram ações como a derrubada do PEC 23. Portanto, resolvi que num dá para me omitir e não comentar a surreal fala acima citada.

Vamos aos pontos:

1) ela afirma, no discurso, que se o PEC 23/2006 for aprovado ela ficará impedida de demitir um empregado se ele for pedófilo. Oi? gente, pelo amor de Deus, avisa pra essa senhora que pedofilia é crime, então ela pode sim não só demitir como principalmente denunciar um pedófilo! O que ela não pode é fingir que num sabe (porque num é possível, eu sei que ela sabe) que pedofilia não é sinônimo de ser gay, e que existem pedófilos homossexuais, infelizmente, mas também infelizmente pedófilos heterossexuais (e muitos, minha senhora, muitos!). Portanto, se seu empregado, hetero ou homossexual, for um pedófilo, a senhora deve mesmo demiti-lo, denunciá-lo, fazer de tudo para que ele não possa agir nem perto de seus filhos nem dos filhos de ninguém (estratégia melodramática muito usual e eficiente, a de chamar a comoção do público para seus argumentos usando da seguinte frase: "sou mãe de dois filhos", usada não só por Myriam Rios, mas por tantos outros "defensores da família" e, em nome disso, defensor dos preconceitos também, vide a fala de Leilane Neubarth que já comentei nesse post). Mas o que a senhora não deveria (e se tudo correr bem, se o mundo for justo, com aprovação posterior dessa Lei - ela ainda terá que ser objeto de apreciação mais uma vez - ou de outras, como a PL-122, o que a senhora NÃO PODERÁ) é imputar a uma pessoa um rótulo criminalizável, como associar a um homossexual a acusação de pedofilia, a priori, porque isso é discriminação e também calúnia e difamação.

2) Vamos entrar agora nesse surreal argumento "Quero dizer que não tenho preconceitos, que não estou discriminando ninguém", pra depois sair discriminando a torto e a direito, povoando o mundo de
preconceitos e estigmas aviltantes. Vou repetir: NÃO PODEMOS TOLERAR QUE OS DEFENSORES DO PRECONCEITO, ESSES ARAUTOS TOTALITÁRIOS QUE QUEREM IMPOR SUAS VISÕES DE MUNDO SOBRE OS DIREITOS DOS OUTROS, ADVOGUEM DIREITO DE IGUALDADE DE OPINIÃO, DIREITO DE EXPRESSAR SEU PRECONCEITO PORQUE ISSO É DEMOCRÁTICO. Não, não é. É totalitário, já escrevi sobre isso nesse post e não vou me repetir. Mas não aceitamos mais esse argumento. Bata no peito e assuma: sou totalitário, quero despedaçar você, por ser diferente de mim, não quero que você tenha o mesmo direito que eu, e aí a gente conversa. Fora isso, para mim você está se portando duplamente como um cínico e um preconceituoso.

3) Ela repete várias vezes: "imagina vc contratar um empregado para cuidar de seus filhos e depois descobrir que ele é homossexual". Essa dimensão do "descobrir" me lembra muito a sempre atual obra de E. Goffman, Estigma (senhora deputada, vença seu medo do conhecimento, procure ler esse livro, venha para a luz, Caroline!). Nele, Goffman distingue os desacreditados (aqueles que portam estigmas visíveis, marcas corporais, e serão discriminados por isso) e os desacreditáveis (aqueles cujos estigmas são passíveis de disfarce e manipulação, por não serem marcados pelo traço físico objetivo, mas que se forem descobertos serão discriminados). Para os primeiros, os estigmatizados/desacreditados, o problema está no contato, pois este é marcado sempre por uma situação tensa em que a materialidade do estigma evoca o preconceito e a discriminação. Para os segundos, os estigmatizáveis/desacreditáveis, o problema é a informação, o controle sobre ela, quem pode saber, quando, onde... trata-se de uma situação de absoluta tensão e neurose, já que sobre o desacreditável paira a sombra do medo de ser descoberto.
E a deputada Myriam Rios, que acha mesmo (será que acha?) que não está discriminando ninguém, quer perpetuar exatamente esse medo, essa tensão, essa neurose. Ela quer que seu empregado (olha, me recuso a comentar o quanto esse exemplo sobre contratar empregados como único meio de contato com homossexuais é chocante, nem o caráter classista dessa exemplificação) continue se escondendo, mentindo para se proteger, controlando as informações acerca de sua vida privada para não ser descoberto, porque se for, segundo o que sugere a deputada, o levaria a perder o emprego. E ELA VEM DIZER QUE ISSO NUM É DISCRIMINAÇÃO!!!! Ah, num tem como ter paciência com esses argumentos.

4) Podia falar aqui do estado laico, da necessidade de contermos, com urgência, esse avanço das posições religiosas sobre questões de direitos individuais, mas isso já vem sendo pauta de inúmeros artigos e falas (recomendo, por exemplo, essa entrevista com o deputado federal Jean Wyllys). Prefiro abordar aqui a importante questão levantada por H. Bhabha a respeito das relações ambíguas entre colonizadores e colonizados. Segundo ele, os colonizadores, buscando situações de controle e dominação, esmagavam os direitos dos colonizados, oprimindo-os. Para isso, deslegitimavam qualquer fala destes, acusando-os de uma não humanidade, de inferioridade, de representarem o perigo da anomia, o primitivismo. No entanto, mostra Bhabha, ao mesmo tempo que oprimem e desqualificam os colonizados, os colonizadores os fetichizam, transformando-os em objeto ambivalente, significante de um misto de temor/medo com fascínio/desejo. A ação de sujeitar o outro, antes de significar somente um atestado de poder, demonstra Bhabha, é uma alegoria de uma ambiguidade constitutiva da relação colonizado/colonizador: lugar de temor e também de desejo, o colonizado precisa não só ser domesticado, mas principalmente fetichizado, para que o opressor possa lidar com seus medos e seus desejos, como o medo/desejo de, de alguma forma, ser dominado por aquele a quem domina ou, em última instância, tornar-se um deles, e o pior, gostar de tornar-se, desejar tornar-se aquilo que em tese se abomina.

Acho essa uma excelente forma de pensarmos a relação da hegemonia heterossexual em relação ao homossexual. Claro que não estou propondo aqui uma aplicação colonizador e colonizado ao pé da letra, mas pegar por empréstimo o que Bhabha aponta existir, no jogo perverso do fetiche, de medo e desejo nas relações de dominação.

Porque venhamos e convenhamos, essa fixação de uma parcela de religiosos brasileiros com a questão dos direitos homossexuais pode ser pensada claramente nesses termos do fetiche. Aliás, frente aos últimos acontecimentos, já estamos no campo da obsessão.

Portanto, acho que esse bando de preconceituosos travestidos de bons samaritanos está precisando mesmo é de uma bela de uma ... terapia gigante! Ou, pelo menos, de dar uns bons beijos na boca. Talvez parassem com essa encheção.


Terminarei com um "Você dedide" particular. No filme "O grande debate", o orador negro, que vencerá ao final o desafio dos debates que perpassa o filme, termina seu consagrador discurso sobre a segregação racial norte-americana com a seguinte observação (não lembro ao pé da letra, então é mais ou menos isso): "frente ao que vocês nos fizeram, só nos restava escolher entre a desobediência civil e a violência. Vocês têm sorte por termos escolhido a desobediência civil". Ora, não precisamos chegar a tanto por aqui. Não precisamos nem de um nem de outro caminho. Escolhemos o de lutar no campo das leis.

Mas deixo aos discriminadores, esses falsos cristãos, que fingem que pregam o amor ao próximo mas só tem, como narciso, amor a si mesmo, o seguinte direito de escolha: abaixo endereço duas mensagens a vocês. Dependendo do seu comportamento em relação a mim, te ofertarei uma delas. Agora é com você!




Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Conheci recentemente o blog da Rávellyn, minha aluna neste primeiro período de sociologia em 2011/1. Sempre fico impressionada com a sensibilidade e com a força de expressão dos blogs pessoais. Sou fã.

Pra quem quiser conhecer o link é esse aqui.
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Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:
Dando prosseguimento à série de receitas e dicas culinárias bem facinhas que pretendo disseminar neste blog, segue a receita de um delicioso e saudável antepasto de abobrinha:

1) Corte picadinho ou em tirinhas (como vc preferir):

- 2 abobrinhas (se preferir, faça com 1 abobrinha e 1 berinjela, ou com duas berinjelas)
- 2 tomates (sem caroço)
- 1 cebola
- 1 pimentão amarelo ou vermelho (ou os dois, fica ainda melhor)
- 8 dentes de alho

2) coloque num tabuleiro e misture com um punhado de orégano, sal a gosto, 1/2 xícara de azeite e 1 pouco de vinagre

3) cubra o tabuleiro com papel laminado e coloque no forno para assar por cerca de 1 hora e meia, em fogo médio/alto (250°, mais ou menos)

4) depois de pronto, misture um pouco de cheiro verde picadinho.

Pronto, tá no pontinho pra servir. Fica tão gostoso que dá pra comer puro esse antepasto, ou com torradas, num sanduíche, acompanhando a comida... e se você quiser, depois coloque mais azeite ou sal, de acordo com sua preferência.

Como reclamaram que no primeiro post desta série, sobre meu arroz elogiado, a foto num era do mesmo, agora tô matando a cobra e mostrando o pau. Nas fotos abaixo, o antepasto pronto pra ir ao forno, ainda cru; e num segundo momento, já pronto pra ser servido. Tudo de minha própria autoria. :)