Toda vez que estou em algum congresso com alguém apresentando trabalho sobre jornalismo e representação, discurso etc., vira e mexe vem um santinho querendo novamente discutir se existe a tal da objetividade jornalística ou não. Isso depois de uma penca de estudos, todos de altíssimo nível, que já destruíram essa construção retórica e conveniente. Definitivamente: a questão do olhar subjetivo no jornalismo não é mais hipótese, é premissa. E fim de papo. Se não, a gente não avança nas discussões e fica o tempo todo desconsiderando esforços importantes no campo da pesquisa sobre o tema.
Tudo isso pra dizer o seguinte: defender posições preconceituosas, racistas, homofóbicas, sexualistas, classistas, discriminatórias etc. não é direito de opinião. É crime. E é crime porque já avançamos no campo das conquistas dos direitos ao criminalizar práticas que agridam, desrespeitem o princípio da igualdade, criem dor e ódio. O caso recente do Bolsonaro é exemplar neste sentido (para saber mais e para ler uma resposta digna e indignada, leia esta carta aberta). Não é possível tolerarmos mais essas falas. Não são polêmicas, são criminosas. Definitivamente, é premissa: NÃO É JUSTO REIVINDICAR DIREITO LIBERAL DA LIVRE EXPRESSÃO PARA PRÁTICAS TOTALITÁRIAS E DISCRIMINATÓRIAS. Isso não é democrático, é retrocesso e deveria ser combatido, não tolerado em nome de um princípio liberal conveniente e muito menos incentivado.
Acabei de ler Entre os vândalos - a multidão e a sedução da violência, magistral trabalho jornalístico/antropológico do norte-americano Bill Bulford (Companhia das Letras) . Nele, o autor faz uma imersão entre grupos de torcedores ingleses, para alguns simplesmente "os hoolingans", mas como demonstra o livro, algo muito mais complexo. É um livro petrificante. Choca do início ao fim. E mostra claramente no que dá a tolerância com discursos totalitários e preconceituosos. Quando se convertem em prática, linguagem em ato, eles são revestidos de uma violência incontrolável. Abre o olho, minha gente. Os Bolsonaros criam esse mundo assustador.
Que nojo desse cara...
E pensar que, quando eu era criança, meu pai dizia que a gente (eu e meus irmãos) tinha que votar no Bolsonaro, porque ele ia garantir nosso futuro (pensão p/ filhos de militares).