Karina Limeira Brandão, mais conhecida como anaenne:

Não, não vai acabar diretamente com a homofobia no Brasil.
Sim, mas foi um passo importante na discussão que está sendo travada sobre o tema, porque a emissora de maior visibilidade do país bancou essa cena polêmica.
Sim, a Globo quer faturar audiência.
Não, não redime a Globo de todos os seus crimes ideológicos.
Sim, a Globo conseguiu a proeza de ser mais pra frente do que o governo Dilma, essa vergonha em políticas de combate à homofobia.
Não, não foi o primeiro beijo gay em novelas brasileiras.
Sim, mas foi a primeira vez que o beijo final, destinado ao casal principal, foi um beijo entre dois homens.
Sim, é super conservador esse negócio de só existir felicidade via casamento/família etc.
Sim, mas no momento atual é muito importante e pertinente mostrar, como cena final de uma novela, uma família de dois homens e seus filhos, principalmente com as discussões que têm sido travadas na sociedade brasileira sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Não, não foi um beijo caliente.
Sim, foi um beijo amoroso entre duas pessoas que se amam.
Não, não apaga tudo o que o personagem fez de maldade durante a trama toda.
Sim, W. Carrasco acertou a mão neste final e os atores (Solano, Fragoso e Fagundes) deram um show.
Não, não redime a canastrice da novela e as cenas ridículas que Carrasco nos obrigou a aturar.
Sim, foi o coroamento de uma atuação magistral, a de Matheus Solano como Felix.
Sim, o amor muitas vezes redime e promove o perdão. O amor muitas vezes cura.
Sim, foi uma cena referência ao final de Morte em Veneza.
Sim, terminou sem o tradicional "fim" após a cena final. Vida que segue...
Não, não gerou uma aceitação unânime.
Sim, mexeu com o imaginário nacional, colocou o tema na pauta do fim de semana, gerou reações de torcida como se fosse final de copa do mundo.
Sim, foi um #chupafeliciano e #chupabolsonaro e #chupamiriamrios e #chupamalafaia que deu gosto de ver.
Sim, era só uma novela.
Não, não era só uma novela. Era um importante lugar de representação, de disputa cultural, discursiva, a cena final de uma novela das oito, em que tradicionalmente o último beijo cabe ao casal principal da trama, e dessa vez esse casal foi REPRESENTADO por dois homens.
Não, uma novela das oito da rede Globo não é, no Brasil, só uma novela. E tem que ser muito cínico pra fingir que não se sabe disso.
Sim, ainda há muito para ser feito na "vida real".
Mas, sim, sim, foi muuuuuito legal ver parte significativa da minha TL no Facebook e no twitter emocionada, comemorando, festejando. Porque todo mundo sabe o que tava em jogo ali. Quem finge não saber se faz de besta, por ignorância, conveniência ou cinismo.
Sim, a cena foi linda pra caramba, a luta por representação foi linda, mas bonito mesmo, de emocionar, foi ver a alegria de todos os que são diariamente massacrados pela ausência de representação ao lado da ausência de princípios básicos de igualdade que, pelo menos por alguns breves segundos, se sentiram minimamente representados.
Se as pessoas não conseguem ver o passo que essa cena significou para a auto-estima e para a luta em torno da representação, com todos os problemas que isso obviamente ainda carrega, sinto muitíssimo, mas talvez esteja faltando um pôr-do-sol e a mão de um ente amado para ajudar a curar a cegueira...


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1 Response
  1. Falou tudo Ana! ;) Com certeza foi muito importante em termos de representação cultural, amorososa... enfim, foi demais!